Algumas coisas que vejo são tão lindas
Que faço poema com os olhos.
Corvos no milharal - Van Gogh
Como aquele fundo de quintal de todos os meus dias.
Perdido e esquecido entre tijolos e cimentos
E tantas janelas seguindo-o na vertical
Altas e reunidas
E nelas tantas vidas, agitações e mortes:
Hospitais têm disso de morrer vagaroso numa esperança medonha.
Mas o mais tocante é que bem lá no meio,
No centro daqueles miríades de castelos de concreto puro sonho,
De aberturas vizinhas desconhecidas no corpo e no prédio
Havia um quintal.
Havia um milharal.
Completo e indiferente ao mundo.
Vencido entre cascalhos e rascunhos,
Ele crescia lindo e verde.
Repleto de frutos amarelos
Gordos, como bonecas.
Uma coleção em um grão
Soberano e impercebido.
Marina Cangussu F. Salomão