quarta-feira, 12 de março de 2014

Milharal

Algumas coisas que vejo são tão lindas 
Que faço poema com os olhos.

Corvos no milharal - Van Gogh

Como aquele fundo de quintal de todos os meus dias.
Perdido e esquecido entre tijolos e cimentos
E tantas janelas seguindo-o na vertical 
Altas e reunidas
E nelas tantas vidas, agitações e mortes:
Hospitais têm disso de morrer vagaroso numa esperança medonha.
Mas o mais tocante é que bem lá no meio, 
No centro daqueles miríades de castelos de concreto puro sonho, 
De aberturas vizinhas desconhecidas no corpo e no prédio
Havia um quintal. 
Havia um milharal. 
Completo e indiferente ao mundo. 
Vencido entre cascalhos e rascunhos, 
Ele crescia lindo e verde. 
Repleto de frutos amarelos
Gordos, como bonecas.
Uma coleção em um grão
Soberano e impercebido.

Marina Cangussu F. Salomão

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