domingo, 31 de janeiro de 2016

Fuga de ideias invisíveis - Dos pedaços

Aprendi 
A levitar
A voar
A perder-me do chão

Aprendi
A desfazer-me
A esquecer-me
A deixar-me vazão

E a vida tornou-se mais leve
Sem tanta carga
Sem tanta mala
Sem tanto nó deixado para trás

Pois aprendi
A desatiná-lo
A desafiá-lo
E seguir desamarrada
Desapegada
E controlada
Por si só.


Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Pupilas, íris, cílios

Com muita frequência eu me perco em teu olhar:
Sei que estou apenas olhando, observando
(Talvez absorvendo)
Mas mais parece que estou submersa em hipnose
E não tenho pressa de voltar.

E não sei quanto tempo emprego nessa ação
Nem sei de tempo e se ele passa
É como se tudo parasse
Ficasse suspenso
E todas as velocidades se reduzissem

E nada mais existe naquela fração de segundo eterna:
O mundo se escurece
Se embaraça. Se perde
E o único que me resta são pupilas, íris, brilhos e cílios.
Tua luz. Tua vida. Teu ar.

E me alimento desse teu gosto que me vem à boca quando tuas pequenas moléculas de aroma me excitam o límbico, me prendendo para sempre neste limbo, neste espaço minúsculo dentre o piscar.

Ah! Pois acredite: me sustenta. 
Sou capaz de sobreviver por dias ou semanas só com essa lembrança.

Marina Cangussu F. Salomão

Ode ao último retrato

Era apenas uma imagem antiga
Um porta-retrato entre papéis perdidos
Velho, um pouco carcomido.
Mas trazia lembranças
Achadas, talvez, 
Com o intuito de despedir-se afinal.
Nele desenhava-se um rosto bonito
E um tanto feliz,
No fundo uma parede do quarto
Que há um tempo me quis.
Parecia tão familiar
E ao mesmo tempo distante,
Que a minha imagem sorrindo ali ao lado
Já nem era mais minha
Foi: um dia, num instante.
Estranha a vida em imagens congeladas.
Antes alguém por quem mudar a rota, o rumo, os planos
Depois um nome que não se lembra mesmo voltando os anos.
Tristes os destinos
Ou felizes,
Não sei.
Ao menos, os mais importantes deixaram foto escondida
Pois ainda existem os destinos que não restaram sequer resquício de vida.
Mas, provável, que seja como foram,
Os que hoje têm rostos na memória
Mudaram o rosto que os acompanhava:
Meu rosto,
Meus sonhos, verdades ou propostas,
Sem o peso de mudanças impostas.
E isso é o que mais importa ao final.


Marina Cangussu F. Salomão

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Movimentos

Se não puder me dar tudo
Então não me dê nada.
Eu dizia insistentemente dentro de minha cabeça.
E treinava a fala
E desejava sua eloquência.
Mas ela tinha gosto de perdido em insistência.
É que como explicar que não peço futuro, a vida, os pertences,
Peço apenas reticentes
Possibilidades.
Quero somente sonhos e planos
Que sei que nunca irão se realizar
E que desde o princípio são insanos
Esperando apenas a razão se normalizar.
É que gosto da loucura
E de me sentir louca e solta
Eu gosto da soltura
E de me derreter pouca e revolta, seu outra (rima).
Com todas as escolhas em minhas mãos
Várias opções
Diferentes caminhos e combinações.
Gosto de sentir a liberdade de ir e vir
De entrar e sair
Aonde quer que eu queira.
A minha pele me diz isso repetidamente em frente ao espelho
Pois gosto inclusive de brincar de pentelho 
Na porta de entrada e saída de tua vida.

Marina Cangussu F. Salomão

Seres humanos

Ele tem medos como eu
E também alguns assombros
Posso ver em seus olhos negros
Quando se dilatam atentos
Ou no acelerar de batimentos

Ele tem pressa como eu
E também se acalma às vezes
Isso eu vejo no caminhar veloz
Ou quando não presta atenção em falas
E quando se deita vagaroso na sala

Ele tem perdas como eu
E também tem escolhas
Eu percebo quando me abre o coração
Ou quando não permite entrar
E principalmente quando me coloca em meu lugar

E ele se entrega
Mas não como eu:
O olhar, a taquicardia
a perda, a fala, o descontrole da perna
a vergonha, o sem jeito.
Os sintomas são todos iguais
Mas a história é diferente.

Marina Cangussu F. Salomão

O barquinho

Lá está ele de novo
Descendo o rio da minha vida...

Ele desce e sobe
Traz notícias
Traz vazões
E traz futuros: previsões

Ele muda a rota
Abandona o tédio
Ele troca a frota
Ele traz remédio

Ele desce e sobe
Traz monções
Traz premissas
Premonições

Ele muda e entorta
Destrói meu prédio
Ele me deporta
Ele me traz nédio

E o que ele mais traz é esperança.

Marina Cangussu F. Salomão

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Motivos de silêncios

Envolvo-me num não querer falar de ti
Não querer tocar teu nome
Não querer sequer pronunciá-lo com pronome
Nem prefixo, nem com fome
É que em algumas situações de extremo,
Dessas que o corpo é só instinto,
Eu corro o arriscado risco de te prender
De te querer em minha estante
Lindo, parado, perfumante...
Até que encha de poeira
E um dia fique bem na beira
Carregado de excessos
E te despenque pesado, só de restos.


Marina Cangussu F. Salomão

Fuga de ideias invisíveis - Do começo do Internato

Temos tantas poesias e sonhos
Esbanjando excessos em nosso dentro,
Que nunca há tempo ou alegorias
À espera de decaimento.
E não há o que não seja fantástico
Dentre essas esquinas de contos.
E basta que seja mágico
Para querer ser real.
Mesmo que o não negue a si mesmo
E o chão pise fundo,
Assim é a vida dos que têm mundo
A crescer dentro de si.


Marina Cangussu F. Salomão