Dizia insistentemente aquela voz em minha cabeça, enquanto eu vagava por um aeroporto. Já sem mala e sem encosto, só à espera de meu voo de volta.
Um coisa apenas eu tinha certeza: aquele voz que sempre me surgia na vida, como quem não é parte de mim, não se referia ao lugar onde estávamos, ao descanso, ao desconhecido de agora, às descobertas próximas.
Acho que se referia a mim mesma.
A nós duas.
À última vez que pisei naquele mesmo aeroporto. Agora com artigo definido masculino singular.
Dois anos antes.
Antes do desconhecido maior, da descoberta principal.
Época em que ia de encontro comigo mesma com minha ansiedade infinita. Ansiedade que só pertence a quem sabe que está aberto à mudança e prestes a encontrá-la.
Lembro-me bem do antes daquela viagem de mais de 400 dias, da voz dizer-me insistentemente como agora: estou curiosa com a eu que voltará.
E já se vão mais de 250 dias que voltei:
E sei de tudo o que mudei.
E sei daquilo que ficou.
Sei da ansiedade da volta, do medo de voltar a ser a velha eu - sem as diferenças que conquistei.
E sei ainda que nem todas as mudanças ficaram, mas poucas se foram até agora. Porém sei que muitas ainda estão por ir.
Porque a vida é em movimento e só se fica estático se não quiser andar.
Entretanto, toda essa mudança assusta e diz em silêncio todo o tempo: não se esforce tanto em dizer adeus a você mesma.
Deixe ser e deixe ir sem algemas. Sem nada policial, sem leis, sem regras. Sem o reflexo de seu Édipo.
Deixe apenas ser eu.
Marina Cangussu F. Salomão
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