Ao entrar em minha casa
Invadir meu quarto sem convite
E espalhá-lo desodorantes, toalhas, escovas de dente.
Depois entra na cozinha
Busca comida no armário
Abre e fecha a geladeira.
Troca a marca do shampoo
Reclama do sabonete.
Ocupa lugar em minha mesa.
Lê meus livros.
E me incute a rotina de ver filmes, jogar capoeira, andar de bicicleta.
Ainda insiste, como se eu estivesse errada,
Para trocar o sabão em pó
Por uma bola sem cheiro,
Argumentando que com ela a roupa não da nó.
Senta à mesa de meus pais
Pede a benção à minha avó
Fala de amizade com meus preferidos.
Arruma minha cama.
Reclama do tempo de espera para tomar banho.
Esquece o chinelo que nunca mais voltou.
Compra comida e define o suco.
Diz onde deveria economizar.
Cozinha sozinho sem minha companhia.
Aponta meu estresse, minha fala errada,
Minha identidade velha, meu jeito infantil,
Meu apego excessivo.
Vai na farmácia e faz suco de laranja.
E quando menos percebo
Já define a minha rota
E reduz a minha cota (de pesos).
Ele chegou como se ele sempre estivesse
E é como se sempre fosse.
Marina Cangussu F. Salomão
Escreve como Chico
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