sábado, 18 de maio de 2013

Écloga

Na aldeia de minha terra
Quando o sol já é alto
E a barriga vai pesada e cheia
Aquieta-se todo o rebuliço
E se escuta apenas o sol queimando a terra.
Vez por outra se sente o movimentar de uma cria
Mas sem berro ou relincho
E vê-se as moscas rondando as tetas e as flores
Ou os pratos sujos na mesa
Talvez há uma voz de notícia
Abafada por mais de um ronco
Às vezes tem voz na estrada
Outras o motor no tronco
Então se ouve o mexer de cabeça dos cachorros
Lesados das sobras do almoço
Fingem se confundir.
Depois vem a dona com tilintar de pratos e fechar de torneiras
E vem o menino do recado
Vem os gansos atrás das cascas de frutas de sobremesa
No outro quarto é um revirar de cama
E um passar de páginas
E dali do outro canto
É só a saudade que mata
Vendo a estrada longe, quente e vazia.

Marina Cangussu F. Salomão

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