Não é a primeira vez que escrevo estas palavras
Aquela borboleta passou sussurrando por entre as flores novamente.
E pude perceber sua existência entre pétalas nas asas e outros sonidos.
Incrível pensar que são insetos: borboletas são tão distintas para serem meros voantes desgostosos.
Mas era a sua existência: voos efêmeros como epifanias.
E era o que trazia naquela manhã de meio-dia...
Voavam os meus insetos pousando e sugando minhas asas floridas, em tantas cores cultivadas e desenhadas em tantos rodeios de voos (e quedas).
Na verdade, mais pareciam parte daquele colorido exuberante com salpicos negros. Eram a minha existência: menos efêmera, (mas) com mais epifanias.
E via os insetos contornarem os passos que me davam tanta asa. E foram tantos passos tão perdida, que a ânsia de deixar-me penetrar entre as folhas de qualquer árvore me grita nos ouvidos à minha fuga.
Mas disso eu já passei.
E hoje o peso de meus pés é maior que a força dos ventos nestes grandes monstros coloridos às minhas costas.
E não entendo plenamente porque chamá-las de monstros, talvez porque tê-las é assustador: foram demasiados insetos em suas pontas para permitir a costura...
Mais assustador ainda é ter consciência de tudo: quisera eu não ter o dom do conhecimento.
Tosca vaidade de meus pensamentos.
Se fossem tristes não seriam coloridas.
E indo aos passos: sei lá em que ignorância ficaram. E o peso nos pés é apenas medo de se perder: então crio raízes na lama solta, fingindo estar segura.
Fiz isso tantas vezes. Outras tantas chorei por sentir que voava, porque sempre me foi difícil olhar para baixo e ver os que ficavam.
Pobre borboleta! Eles nunca vão entender sua prepotência. Mas eu sei. Hoje, às vezes, vou lá e salpico-lhes beijinhos, assim rápidos e efêmeros, como a minha epifania de voar.
Mas é que só assim me redimo por tirar aquelas coisas de meu calcanhar e colorir o negro de meus monstrinhos e poder voar colorida e solta, em pétalas e asas, como uma butterflower.
Marina Cangussu F. Salomão
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