quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Rebobina

Nasci inadequada em minha bolha de sabão
Enquanto a minha primeira palavra foi não

Nasci astuta em minha caixa de sapato
Enquanto de meu pai era um carrapato

Nasci no colo de alguém triste
Enquanto a letra ainda insiste

Nasci voando no meu chão
Enquanto a vida perecia em vão

Nasci cortando as minhas partes
Enquanto no escuro fazia artes

Nasci na hora do irmão doente
Enquanto nos caminhos ia alguém carente

Nasci com dúvidas sobre a vida
Enquanto o mundo estava de saída

Nasci no meio de um matagal
Enquanto almas vagueiam na marginal

Nasci amando o mundo de deus
Mas isso ninguém viu, nem eu.

Marina Cangussu F. Salomão

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