segunda-feira, 11 de dezembro de 2023

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 Tantas coisas que meus olhos viram

Onde eles guardam todos esses retratos em movimento?

Por vezes se lembram de uma cena

E não a localizam no mapa


Pobres olhos de dentro

Perdidos em suas montanhas de vida.


Como a gente faz com a memória?

Do sabor das frutas novas que comemos

Da sensação de algumas ruas que passamos

Do tato de nossas pontas de dedos

Furtivamente apreciando a textura de uma pele ou de um chão


Às vezes nem cena, mas sensação

E não me lembro de figurino, nem dos atores, nem do cenário

É só um perdido, anônimo, de vida fugaz.


...


Até o fim de minha vida

Como vou guardar tudo isso aqui dentro?


Marina Cangussu F. Salomão

Flor

Reguei-me

Por vezes me encharquei

Por outras me esqueci

Por ambas eu quase morri


Mas reguei-me

Sigo regando

Tentando encontrar minha dose certa de água


Marina Cangussu F. Salomão

Barulhos

 Depois de um tempo

As falas

Os gritos

Os olhares

Tudo isso me machuca


Entra profundamente em meu vazio

E retorce-me

Como se consumisse minhas tripas


No meu silêncio

Não há paz

Pois emmim há angústia


A angústia de todos os anos de gritos e falas cortantes

Que chegaram em meus ouvidos.


No meio de todo esse barulho

Em me esqueci de saber quem eu sou


E hoje é só um tentar reconstruir

Onde nunca se fez a base.


Marina Cangussu F. Salomão

Voar ou fugir

 Às vezes, no passado

Dá uma ovntade de passarão


Então me acalmo e lembro:

A mim, só cabe ser passarinho


Voar ou fugir

Ou voar fugindo

Ou fugir voando


Marina Cangussu F. Salomão

Metrô de São Paulo

 Depois qeu o metrô sai

Abarrotado de gente

Que se espremeu para o trabalho

às 7h da manhã


Empurrando

Ajustando

Se esfregando

E passando raiva


Fica um vazio nos trilhos

Um espaço oco

Igual o existencial

Muita gente já tentou se preencher

Se jogando por ali

Não sei o fim que deu

Talvez o fim.


Marina Cangussu F. Salomão

Formação de Eu

 Eu sou 

as várias

Marinas

que passaram

por mim


Marina Cangussu F. Salomão

domingo, 30 de maio de 2021

A cidade

As últimas luzes já se esconderam

Se foram lentas e tardias na noite de verão

A lua nova demais está atrasada ou se escondeu de vergonha
_ meninas têm disso as vezes

Resta o brilho da cidade
Que se monta como árvore de Natal
E de longe é possível ver sua extensão
Cada pequena casa e vida humana acessa àquela hora

Os olhinhos de gatos, sapos e cachorros também brilham
E te assustam se estiver distraído
Mas eles são poucos agora: nos becos ou nas casas sendo mimados em demasia

Carros com faróis, brisas mais amenas, sons de pessoas adentrando as casas cansados do todo dia, uma sirene passa ao longe, avançando o que resta do transito

A cidade.

Da varanda de minha casa me dou conta desse prelúdio de universo
O inanimado tomado em vida
O poder de um Deus homem

Sei lá! Só sei que achei bonito.

Marina Cangussu F. Salomão