segunda-feira, 16 de março de 2015

Obviedades

Quando andávamos naquelas ruas desconhecidas
O mundo parecia ser tão possível
Tão tangível
Mesmo aos da tangente
Que minha alma se inundava 
Ao mínimo toque de tua pele
E ao descrever-me a eternidade
Me permitia sentir a possibilidade daquela parceria
E eram tantos sonhos e certezas
Que a concretude mais parecia óbvia 
Naqueles teus olhos dourados e lindos

Mas o óbvio é apenas para aqueles que vivem de sonhos.

Marina Cangussu F. Salomão

Partida

'Deixe ele ir'
Dizia a voz aqui dentro.

Mas é tão destoante a partida.

Vi mil vezes o desfazer de laços
Mil vezes o mover de passos
Deveria estar tão usada, tão gastada
Que acostumada estaria.

Mas vê-lo partir é tão doloroso
Quando junto ao ir não vai o voltar.

Marina Cangussu F. Salomão

Amores Noturnos

Fecho meus olhos 
E ainda posso sentir o cheiro de tua pele 
Se aproximando da minha
Teu gosto me rodeando
E tua textura me suavizando.
Posso ter-te ainda por inteiro
Tomado em mim em deleite
E te acaricio ameno e gostoso.
Posso ver estes teus olhos dourados
A brilharem para mim
Me amando, até o fim.
Sim, ainda posso ter-te ao meu lado 
No travesseiro
E você me pesando inteiro.
Eu sonho contigo, meu amor.
Você é perfeito em meu sono
Sutil e ligeiro.
Tão rápido que em um amanhecer
Já se dissipa
E o que me resta são teus defeitos
Tua permissão desordenada em se perder.
E odeio-te no vagar do dia.

Mas pela noite
Eu vou ser para sempre tua
E só tua.


Marina Cangussu F. Salomão

quarta-feira, 4 de março de 2015

Dissonância

Quando voltam passados
Voltam os monstros
Agarrados em mim

E ficam a amedrontar-me
No escuro e no cansaço
Eles ficam a dizer-me
Loucuras sem retratos 

Eles voltam 
Rodopiando a mente
Encarcerando os lábios
Brincando de esconder-me fatos

Eles ficam
Por dias seguidos
Intactos

Marina Cangussu F. Salomão

Relampejo

Adormeci-me em teus relampejos de satisfação
Como quem se deita rodeada de gratidão

Adormeci e me deixei entregar ao sono pesado dos que estão cansados

Permiti-me sonhar no sono REM
E não querer saber o que que você tem

Amenizei teus rastros com meus sonhos
Amenizei minha vida de enfadonhos.

Marina Cangussu F. Salomão

Tranças

Não,
A vida não é uma mentira.

Mentira é o que os homens contam sobre a vida.

De seus castelos enjaulados
Rodeados de pedras falsas

De seus muros enraizados
Com suas portas sem alças

Só com trancas
Trancados.

Marina Cangussu F. Salomão