sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Desfazendo passos

Não sei se notastes minha falta
Mas estive viajando por estes tempos
Foram estradas de chão enlameadas
Pela complacência da natureza
Perante a forte presença de meus sentimentos


Os rumos que tomei me levaram 
Para caminhos discretos de meu psíquico
E lá encontrei um ódio disfarçado de amor
_Talvez fosse o oposto: sou barroca
Tudo isso,porém, se fez devido à tua presença


Então hoje prometi a mim mesma
Que minha racionalidade se intensificaria
Seja erro ou não, optei pela escolha
E que meus descompassos gritem como sempre
Pois permanecerão gritando durante tua imagem


Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Semi-vida

Descobri que não sei se vivo:
Como se cada uma de minhas pernas
Andasse para um lado oposto
E meu corpo perdesse o controle sobre mim

Descobri que não sei se nasci:
Como se sangue alheio mantivesse meu pulso,
Sustentasse minhas células e me formasse
E eu nunca decidisse por mim

Descobri que estou em semi-vida:
Porque começo a perceber
Que não me controlo, não decido.
Eu sei: não sei se vivo!


Marina Cangussu F. Salomão

Poema dedicado a Bruno (Aranha) Vieira

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Passo

Dizes ser meu sorriso assim tão belo
Então por onde andas quando vejo
Em pequenos laços todos os nós



Cantas todas as minhas conquistas
Enquanto destroi meu trono seguro
Mas não é capaz de tocá-lo


Lembras de tantas memórias inaudíveis
Mas onde anda toda voracidade
Das pequenas incertezas de nosso meio


Diga-me por onde andas?
Para quem cantas e baila?
Porque já não sei se fico ou passo


Marina Cangussu F. Salomão

Lembrança de um incesto

Quando nos conhecemos ás portas da Imaculada Conceição

Julgamo-nos irmãos

Sem imaginar-mos

Nenhum acontecimento futuro

Briga alguma existia entre mim e você

Discussões? As pequenas

Até que confessamos um ao outro

Deveríamos trilhar caminhos opostos

Para cumprir desejos do coração, era melhor não arriscarmos.

Covardes que éramos.

E as portas da Imaculada... Ironia?

Encontramo-nos para dançar... Coincidência ou não.

Os dias passavam era difícil

Não podíamos mais negar

Os caminhos que escolhemos um dia seguir

Resolveram-se entrelaçar

Onde o infinito e o para sempre podem não alcançar

As juras e as certezas ficarão lá de fora

As nossas vontades e desejos não.

A felicidade


Cardoso. A

O voo



The loved birds - Luminatii




São apenas as sombras
De pássaros no céu,
São apenas seu canto de rodopio.
E giram e giram
Até se perderem junto ao sol
E se queimarem de tanta liberdade


Como conseguem voar
Tão livres e tão alto?
E voam e voam e se queimam
E morrem de liberdade.
Antes eles rodopiam, cantam
Há quem os inveje pela destreza


Será que sabem a consequência
Do voo livre, zarpante sobre o céu?
Vejo apenas suas sombras,
O meu voo tem grades de bronze.
Talvez morrerei pela liberdade, 
Mas antes terei o mais belo voo em minha gaiola.


Marina Cangussu F. Salomão

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Ode à vida/Outra música

E se eu deixasse
As músicas rodarem pela casa
Com a intensidade do sorriso
Que brota em meus lábios


Você escutaria de onde estivesse
E viria quando elas lhe tocassem
Porque agora podemos sentir
Tudo aquilo que não podíamos


O som ecoa na parede.
Que antes torta, hoje certa.
Então o caminho se desfaz
E o fim já não existe


Sei que são outros olhos
Assim como outras músicas
É por isso que percebo
Este outro brilho pela vida


Marina Cangussu F. Salomão



segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Nefelibata

A um passo da cortina de nuvens descendentes
Vejo em quadros pintados pelos novos olhos
Todo um passado que há muito quis esquecer


São os mesmos quadros da emburrada infância
Que os olhos velhos mal sabiam admirar
É a mesma sensação estranha de fim


Lembro-me quando disseram sobre a passagem
Era que cada momento passaria
Agora vejo como aqueles respingos não são os mesmos


Penso se os sentimentos são os lembrados
Ou se a memória mais uma vez trai-me
Diante de seu desejo insaciável de ilusão


A cortina anuviada abranda-se
Sinto as lembranças mais amenas
Sinto os sentimentos mais frágeis


_Estou presa novamente.


Marina Cangussu F. Salomão

Maldição

Quero fugir agora,
Para onde me levaria?
Um lugar longe da desconstrução
Longe desse peso que oprime


Desculpe: negaria-te três vezes
Negaria pelo medo.
É esta maldição, afinal
Não é preciso ser sempre igual


O peito comprime-se mais
Porque os olhos veem
A tanto tempo tudo isso
Não é preciso ser sempre igual


As escolhas repetem os fatos
Desculpo-me: negaria-te três vezes
Não por falta de amor
Mas pela presença da aflição.


Quero fugir agora,
Mas não poderá me levar, Barquinho.


Marina Cangussu F. Salomão

Finalmente as memórias se esgarçam

Se sobrarem apenas os retalhos
Farei uma colcha de cor
Para não perder as lembranças
Que iluminam e resplandecem seus olhos


Afinal, descobri que o maior voo
Se dá em uma gaiola
Pode não agradar às suas dúvidas
Mas sempre quis ser tão livre!


Sei que sempre desdenhei a essência
Mas sempre acertei quando dizia:
Eu escolho errar!


O barco se move agora 
E não sei se me leva
Mas sabemos que o melhor seria ir.


Marina Cangussu F. Salomão

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Ignorância

Olhava os dias eternos
Os laços jogados para o ar
Mínimos cuidados atentos
O sono de olhos abertos
Sempre em sinal de alerta
Ninguém... Ninguém.


Olhava os medos e desencantos
As tardes de aflição desolada
Unhas esmaltadas roídas
Papéis borrados de desconexões
Molhados e vermelhos
Ninguém... Ninguém.


Olhava a desconfiança acirrada
Pequenos detalhes presentes
Os vestidos de lado
A hipocrisia escancarada
Motivada pelo desespero
Ninguém... Ninguém.


Este é o preço pago
À ignorância verbalizada
Ao fascínio pela ilusão
À não admissão de si
Na verdade era apenas
Saudade... Saudade.


Marina Cangussu F. Salomão

Menino

Era um alguém correndo
Desconhecia de onde
Ou para onde
Era um menino _ correndo.


Pouco ele sabia sobre o que via
Nem ao menos notava
Ou sentia
Apenas corria para casa


Convivia com o mesmo vento
Só não sabia que me transformava
Nunca percebeu
Aquele vento forte que soprava


Vento que toca cada célula
Permeia cada fio de cabelo
Bagunça-os soltos
Gingando junto à poeira


Ele corria como o vento
Tocava como o vento
Bagunçava como o vento
Mas não sabia que o vento soprava.


Marina Cangussu F. Salomão