terça-feira, 29 de outubro de 2013

Acrobatas bailarinos

Uns velhos, brancos, vagarosos
Passam, tranquilos, param
Seria possível dúvidas. Não
Só incertezas

Outros fantasmas, princesas e reinados
Pulantes, enamorados
Seria possível a morte. Não
Suspiros

Resta fome e pressa.
Oposição. 

Marina Cangussu F. Salomão

Indubitável

Se possível fosse o perdurar intenso e eterno
A luz por entre as flores seria estática
O sol sempre amarelo, intensificando o verde
Os segundos em que todos passam e param:

Incrível as cores sob um céu azul pálido
As companhias de cada um
Os cães, as comidas, as artes
Águas. Pássaros. Bracos e Amarelos

Marina Cangussu F. Salomão

Feijão escaldado

Prefiro as doses às donzelas
As flores às mazelas

Prefiro os cantos, sem música
Os prantos, sem mágica

Me acalenta a magia
A festa. O arado

Me sustenta a companhia
O abraço. Feijão escaldado

Marina Cangussu F. Salomão

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Misoprostol

Um rato aos ignorantes
Aos perniciosos
Aos cristãos
Aos humildes de coração

Todo o meu afeto ensanguentado
Aos uniformizados
Aos alinhados
Educados com varão

As mais sinceras obsceneidades
Aos colares de medalhas
Os vestidos com jargão
Aos podres em exatidão

Um aborto aos bordados
Aos travados
Ignorados
Aos que sussurram para a mão.

Marina Cangussu F. Salomão

Intactos. Sortidos.

O tempo se perdura no pêndulo
No tempo
As horas somem 
E silêncios se tornam eternos

Os sons externos debocham 
Qualquer desenho
Retocam 
Os duros desgastes que fizeram

Gritos e risos, crianças em vozes abafadas, buzinas

Barulhos constantes, 
Frequentes, 
Irritantes, 
Tiquetaques suspensos

Aqui dentro o tempo perdura
Silêncios, olhares, constrangimentos
Pensamentos em segundos pequenos
Pendurados, intactos, sortidos

Erros e desavenças.

Marina Cangussu F. Salomão

Bolsos, bolsas e cartas

De que adianta encher os bolsos para que derramem
Em minha sensibilidade eles se enchem solos
E transbordo todo o pleno que me engole
Me mole, me cole e me sufoca.

E vão se indo os derradeiros lembretes
Os verbetes de ser firme
De rime

Imprime
Uma cara felicitosa
Um desespero premente
Uma terrível feiticeira e sua magia de remédio

Marina Cangussu F. Salomão

Colo

Desejo o longínquo e o despedaçado
O atordoado, enfeitiçado
Açoitado, preso
Sem destino
Sem rumo
Puro muro
Envolta.
Desejo
Próximo
Entre mim
Seguro nas mãos
Cuidado as feridas
Amado os destinos, as escolhas
Desejo-o colado, abraçado, afetado de puro afeto.

Marina Cangussu F. Salomão

sábado, 12 de outubro de 2013

Pluma

A vida é distendivelmente incompleta,
Enrolada tal serpente à presa,
Injeta teu veneno,
Profundo e miserável,
Esvaindo elixires e sobras
Não restando nada absoluto para extermínio de tanta falta                                                   [e tanto sufoco
Encandescentemente pobre e vazio.

Marina Cangussu F. Salomão

Coisas vagas que ocupavam a mente

E vai-se deixando o perder

Passagem por entre os dedos das mãos

Desmoronamento ao tocar o chão

Marina Cangussu F. Salomão

Morte final da Moeda Japonesa

São tantos retoques finais
Tantas artes quentes
Que os pés iniciaram a decadência

O corpo se deitou frio.

Os segundos, um a um,
Se tiquetaquearam

Os sonhos dormiram

E o silêncio reinou
Soberano e triste.

Marina Cangussu F. Salomão

Tarde cinza sem Tempo

Me vê um café quente em taça fria.

Me vê a amargura e a melancolia.

Marina Cangussu F. Salomão

Monogamia

Reduzimos o correr de nossa pressa
E sentimos o cantar claro dos corpos de braços
Refizemos o silêncio e a contemplação.
Deixamos as tintas pintarem qualquer cor
Ignoramos se era úmido, seco ou sol quente
Bastamos o andar dos segundos no parar do tempo
Flutuamos, pairados, estáticos.

E tudo deixou de ser real.

Marina Cangussu F. Salomão

Delineamento

Percorra-me
Transcorra-me
Escorra-me
Discorra-me

Marina Cangussu F. Salomão

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Casinha

Há muito tempo não me balançavam as curvas das estradas.
Ou talvez nunca tenham sido caminhos.

Há muito tempo meus olhos não transladavam as escadas.
Ou talvez subiram baixinho.

Há muito tempo as ondas não se dissipavam.
Ou talvez eram só ressaca.

Mas hoje fluida 
Mais que o vento
O levo lento
Em brinquedos sérios
Para minha casinha.

Marina Cangussu F. Salomão

Fascínio

Desde cedo fascinou-me o ser humano...
Suas filosofias
Sociologias
Suas teologias
Biologias
Seus pensamentos
Histórias e artes.

Suas partes 
E seu todo.

Marina Cangussu F. Salomão

Fuga de Ideias Invisíveis

Voz
Atroz
A sós
No corredor vazio
Num frio
Num chão.
Lá fora, consolação
Do cão
Que lambe dejetos
Para o altar.

Marina Cangussu F. Salomão