sábado, 15 de junho de 2013

Bolada

Bola na trave.
Bola no pino.
Bola furada.
Bola luzindo.

Bola na rua.
Bola no chão.
Bola na roda.
Bola sem pão.

Bola acuada.
Bola redonda.
Bola arrumada
No Mineirão.

Bola revolta.
Bola xadrez.
Bola amarela.
Bola sem vez.

Bola no ônibus
Não passa não.
Bola Brasil
Só na prisão.

Marina Cangussu F. Salomão

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Loki

Um magano arruaceiro
Magnânimo de aldeia
Um boto inzoneiro
De Malabar salteia

Saltibando ignoto
De sonho imaginário
Trazia preso num arroto
Um idílio campanário

Bólide luminoso desembarca
Em embarcação sem buiúna
Sem freio, sem alma e sem carta
Traz consigo apenas segredo

Magano desperto em rodeio
Sem piastra e sem rumo
Em capa negra de terciopelo
Mais parece um soturno

Em quimera de quermesse
Avistado com fomento
Teu encanto me aquece
Meu olhar destroça imponente

Zíngaro de caminhar noturno
Em versos madrigais encanta
Por onde passa em teu coturno
O coração alardeia

Aquele que vem com iole pelo arroio
Secreto meteoro de céu marinho
Venha à jusante onde é seu ninho
Me encontre neste bogari de passarinho

Marina Cangussu F. Salomão

Paganismo

O mundo não é de deus
Em tonteira, em apuro
O mundo tem um furo
Que transborda em vacância

E traz e volta
Em porta torta
E deixa e faz
Nem é sagaz

O mundo é dos Homens
Em roxo isento
Pois não tem pagamento
O romper vazio desfazer em ânsia

E traz sem volta
A boca é torta
E deixa em cais
O perspicaz

E vai-se mudando os fatos
Transtornando os atos
Em lindeiro de sustento
Em atuar atento

E traz e volta
Em porta torta
E deixa e faz
Nem é sagaz

O movimento indo
Em libré mecânico
O movimento em pânico
De homens caindo


Marina Cangussu F. Salomão

Madrigueira

Rápido demais:
Tudo em lanceio
Até comer era devorar sem gosto
Não havia tempo algum para choro ou desgosto
E os poucos anos se foram e se entreveram
Anteveram: sem medo de seu fim

Marina Cangussu F. Salomão

Rei de ouro. Rei de copas. Rei de paus e espadas

Alguns castelos necessitam apenas
De um sussurro para que desabem

E é o que mais desejam em sua verdade impostora disdita

Derrame de teus filhos e frutos e folhas
Ribanceira abaixo em suicídio
Por não suportarem peso nem astúcia

Ruína em tanto esplendor

Elos impossíveis tolerar qualquer som
Porque o toque de uma nota
Ou uma polca trazida
Desgasta a porta esquecida
E rói-lhes as gargantas aquecidas.

Marina Cangussu F. Salomão

Mirada

Aquellos ojos azules
Del color del cristal
Color de mi madre
Mirandome definidos
Fijamente indispensables
Para mi amor

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Rumo

Os passos vão fazendo mil promessas
Com seus contornos esverdeados
Ladrilhando o chão que pisam

Vão indo sem conversas
Nos tijolos amarelos
Delineando a escuridão que miram

Mas iludem, mais a si
Que ao próprio coração
Se desfazem e recheiam
Sem motivos e sem canção

Marina Cangussu F. Salomão

Mundo menor

Quando era pequena a radio tocava, o silência fazia e o cachorro latia.

Não precisava estar atenta
Nem precisava de tanta comunicação
Acho até que epifaneava mais
Me distraía ao som de acordeão


Respirava pelo abdome
E a cortina não era fechada
Não havia essa voz dizendo: some!
E na janela haviam fadas

Quando era pequena a radio tocava, o silência fazia e o cachorro latia.

Não acordava com os dentes doloridos
E escurecia mais cedo
Não voltava nos passos idos
E não existia esse tal placebo.


Era atriz de meu palácio
E rodopiava na escuridão
Tinha sonhos pequenos
Mas abraçava a imensidão.

Quando era pequena a radio tocava, o silência fazia e o cachorro latia.

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Analise

E foram-se desmontando cada um de meus ossos
Rachando. Quebrando. Lascando.
Foi-se desfazendo minha base
Rompendo minha estrutura
Desmontando peça por peça
E deformando-me
Transformei-me em criatura horrenda
Enfraquecida. Interrompida.

Mas após cada calo
Cada dor de cicatriz
Pude olhar-me em primazia em espelho
E contemplar-me: Refeita.

Marina Cangussu F. Salomão