segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Ao quintal

Só não me deixe ir embora
Juntada de sapatinhos
Como boneca que virou menina
Triste pela perda de encantos.

Nem me deixe em prantos
De saudade de minha terra
Que antes, dentre tantos,
Nunca me permitiu ser dela.

Marina Cangussu F. Salomão

domingo, 16 de novembro de 2014

Dramática de meus afazeres

O dia amanheceu-me
Nublado, chuvoso e frio.
E eu amanheci sem sorrisos.
Liguei meus Cazuzas, Caetanos e Gadú
E eu readormeci sem teu corpo nu
Sem graça
Sem vítima
Ou vilão.

Então, eu fiz uma canção:

Sou menina entre amores
Emburrada pelo não
E faço pirraça
Até te ter na mão

Sou mulher que te quer
E não sabe te ler
Sou toda tua em meu adormecer

O dia amanheceu
Mas não quis me mover
Sou mimada a ponto
De não saber não merecer.

Marina Cangussu F. Salomão

Flagrantes

O saudosismo vai nas letras 
que compõem 
as palavras dos sussurros.

E sussurram 
ventos murmurantes 
nos ouvidos:

A saudade é o que resta dos instantes.

Marina Cangussu F. Salomão

Flores, Cores, Dores, Rancores

Vejo pessoas morrendo
Todos os dias
Uma por uma
Em minha mesa.
Vejo-as.
Não por ser médica ou juíza
Ou por enviesar-me em seita
Ou qualquer treita que aceite a morte.
Vejo-as apenas porque abro os meus olhos em suas flores
E vejo-lhes as feridas carcomidas 
E putrefeitas 
Com bichos e parasitas a devorar-lhes.
Mas não culpo os pequenos seres em seu banquete
Nem culpa seria boa palavra.
Mas o sujeito do verbo morte 
É o próprio ser feito de dores
Por cores que não escolheu
E que morre sem sua arte.

Marina Cangussu F. Salomão

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Baixa neblina

A vida cumprida
Muito mais que lida
É arte
É calma e sucinta

Simples como o passar de árvores pela janela do carro em movimento
Árvores secas de outono envelhecidas

Como um sono tranquilo de pensamentos leves
De neblina baixa

Como sons bons e distantes

Chaves por baixo de portas
De portas abertas.

Marina Cangussu F. Salomão

Lithuania 07/11/2014

Apesar de pesar o pesar

Já me vou, meu amor
Assim leve, triste, pacata
Vou-me distanciando
Desamarrotando
Expandindo-me dentre todos os meus ares.
Sei que me acusas de pouco amor
Que te abandono e te causo dor.
Mas me vou,
Porque não queres que eu fique
E não quero permanências
Insistências me agridem 
E me pesam
E eu não gosto de pesares.

Marina Cangussu F. Salomão

Riga

Árvores, fontes, pessoas, folhas
Todas secas e cores tristes
Enraizadas neste vento ressecado
E frio
Mas tão lindo quanto a tristeza destes olhos crios
Cinza, cadente, prepotente
E tão preponderante
Rasante, rasgante
Tão dentro de si mesmo e em seu caminho
Lindo, romântico e sozinho.
Riga: simples, monótona
Não cede. Não pede
Vive em seu confim abarrotado
Amassado pelo vento que enruga o pelo
Cedo
Mas sem medo
Do rodeado.

Marina Cangussu F. Salomão

Vestimentas

O coração começou a doer
Novamente
Mas desta vez uma dor muda
Cheia de curativos
Remendada
Rodeada de perdões
Compreensões e escutas
Ela dói
Quieta
Indistinta
Quase insentível
E diz-me que pouco muda todos os meus passos
O passado continuará intacto
E instável em meu controle
E vontade de "passarão"
Continuará atormentando-me por vezes
Relembrando-me das lacunas encobertas
E das perguntas indiscretas:
"Se sêsse" quem eu seria
Talvez não o mesmo coração 
Bobo e medroso
De suas estruturas poucas
Mas também não sensível
Às bases alheias
Que se escondem em roupas.

Marina Cangussu F. Salomão

Nessas folhas de outono

E mais uma vez me apaixono
Não por pessoas,
Destas os critérios invadiram-me
E fizeram-nas poucas,
Mas pelas coisas
Suas cores, sons, murmúrios
Seus ventos, silêncios, espaços.
Eu me apaixono pela alma das coisas
Que se enlaçam na minha e me namoram
As coisas que permitem ser ligadas e entrelaçadas
As coisas mudas que me deixam dividir
Estas que agem em teus sensores
Sem avisos.
Eu me apaixono pelas sensações
As falas, os cantos, as folhas
O vento nessas folhas de outono
Que mortas são imortais por abandono
Eu me apaixono pelas coisas esquecidas 
E percebidas pelo abono.


Marina Cangussu F. Salomão

Riga - Latvia 02/11/2014

Ao meu lado

Eu sinto as almas ao meu lado
Sinto seus gritos e rancores
Eu sinto suas dores e falares
Sinto quando tocam flautas
Quando trocam olhares
E quando tocam pessoas

Eu sinto as almas ao meu lado
Seus anseios e necessidades
Sinto quando me pedem sem maldade
Pelo afeto, pelo ódio, pelas cores
Por toda demanda de suas faces
E seus amores

Eu sinto as almas aladas
E quebradas
Ao meu lado

Marina Cangussu F. Salomão