segunda-feira, 25 de maio de 2015

Sabor de Atenas

(Ao andar por essas ruas
Vem sutil os sentidos 
Poetizar os pensamentos)


Um cheiro quieto 
Verde e fresco 
De alecrim
Com uma pitada de manjericão
Cheiro que entra pelas narinas
E me transporta ao meu jardim 
Secreto e úmido.
Meu cheiro de mato


Misturado a um sabor de pedra no pé:
O sabor do pé na pedra
Dolorido e macio:
Sabor de viajante
Com gosto de som agudo e de atrito
Que se envolve com as aves dos olivais
E me retorna com o cheiro de saudade. 
Cheiro de casa.
E de repente
E como por sobremesa
O cachorro.
Deitado e preguiçoso: 
Sua harmonia. 
E até parece que eu já sabia
Que meus pés curvariam nessas ruelas.
E que o meu instinto me guiaria para aquela rua quieta 
Com cheiro de adivinha 
E cores de pureza alegre. 
E que diria 
Quem sabe um dia 
Em voz simples 
Que quero um café. 
Em uma língua que forma som, 
Mas que não me forma uma palavra sequer.

Marina Cangussu F. Salomão

Conexão

Uma coisa sempre se conecta à outra
Que se conecta à outra
E assim sou eu: desligada

Mas com energia sublime
De partes de mundos
Sou partes de seres

Como bestas feras de apocalipses
Metade anjo, metade dó, metade homem
Mas sou mulher por inteira

Sou em mim a conexão de tudo
Bem como tudo me conecta

Tudo se conecta
Mesmo desconectado

Marina Cangussu F. Salomão

Pecados amados

Então encontro-me encantada por teus defeitos
Esses teus brilhos rebeldes e soltos
Tua louca necessidade de errar
Tua errada forma de viver teus anseios

E sou essa apaixonada por erros
Os coleciono em meus memoriais de memória
Pois me fascinam defeitos, tolices, bobagens
Encantam-me o gosto que põem na vida
E a maneira como nunca perduram nem duram

Os teus, por exemplo, deixam-te um gosto na pele
Que sinto quando toco-te com lábios, línguas e dentes
Amo dessecá-los: camada por camada
E mostrá-los a mim mesma, louca de tesão

Esse é o exato momento em que reluzo
Pois não só encantam-me os teus pecados
Mas reluzem os meus
E encanto-me comigo mesma
Sendo tua

Marina Cangussu F. Salomão

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Verdades de um coração partido

É meio triste isso de não ter amor
Essa vida de viver de rancor
Mesmo que tudo voa
E que a ferida fique vazia
É triste esvaziar-se
É triste não encartar-se
Por besteiras
Por paixão 
É triste não ser tola
Não entregar-se em vão

Marina Cangussu F. Salomão

Conselho

Não acorde tarde demais, amor
Porque ainda explodo em tentação
Ainda desfaço-me em prazeres
Louca por um pedaço de teu gosto
Então não me venha muito tarde
Porque a madrugada nunca foi meu dia
Afinal sou cores e reluzo ao sol
Sou da manhã e não do farol


Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 18 de maio de 2015

O que seria um amor de verão

Percebo meu corpo derreter-se a cada dia
E dissolver-se por essa esperança de fim curto
Começo breve, meio longo.

E derreto-me a cada instante que te encontro
Nos teus olhares e preocupações
Sem se preocupar comigo
Afinal serei breve 
E nós seremos leve.

Mas não me importa agora a hora
Marcada de nosso encontro
Menos ainda a data definida do fim de nosso ponto.

Importa-me apenas que durmo a sorrir envolta de teu cheiro
A cada noite após nosso prazer
E durmo ligeiro
Como deveria ser

Marina Cangussu F. Salomão

Decantamento de migalhas

Escrevo instantes em segundos
Nos meus cadernos aborrecidos
E levam-lhes horas para decantar
Para perderem-se esquecidos

Pois se falo de dores
Estou louca, desolada
Ou se talvez escrevo amores
Parece que estou apaixonada

Mas são apenas momentos
Resquícios de meus minutos
Nunca meu ser inteiro
Apenas meus eus fajutos

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Ouvidos

Não pensaria que tão longe de tudo
De tantos ruídos e pessoas
Apenas ao som do vento e do oceano
Poderia ouvir claramente
Tamanha gratidão
E tamanha fé
Fé em mim
Em encontrar-me na menina.

Marina Cangussu F. Salomão

Ida

Pegue tuas trouxas 
E vá

Não te importes muito
Nem te preocupes com caminhos
Apenas siga teus pés 
Nessa correnteza de ventos que te guia


E deixe que te invadam areias, cobras e sons
Deixe que te possuam seres, magias e tons

Marina Cangussu F. Salomão

Primeira vez

Pela primeira vez não preciso limitar os meus planos, cortar os meus sonhos, ouvir o quanto sou egoísta por querer-me mais.
É a primeira vez, porque antes de crescer em mim um sujeito solo, eu já estava colocando-me em papel de dois. 
Antes mesmo de saber de mim, eu já me pus em tê-lo.
Mas neste único momento: não: vou onde quero sem ter que desmarcar o jantar ou o encontro de família. Mudo minhas profissões sem pensar se terei dinheiro suficiente para as contas da casa ou para bancar aquele carro que ele tanto queria que dividir.
Vou solta e tranquila. Cuidando de mim e de meu presente.
Porém não vou só.
Sei que posso ter afeto às sextas-feiras a noite ou em qualquer outro dia da semana. Porque tenho com quem dividir o presente. Mas sem pressa de futuro. Sem linhas limitadoras de uma sequência indefinida.
E me sinto bem. Me sinto livre.
Sinto meu amor leve e fluido.
Estava cansada de dividir-me antes da hora.

Marina Cangussu F. Salomão

Masters

All my masters died from their own hands
Dumped in their own shit
Lost in their mistakes

But I love them
Like I love the first of them
The main love
The main life that inspired me

Full of drugs
Full of sadness
Full of disaster
Full of dread dreams

But my only one.

Marina Cangussu F. Salomão

Sentidos em si

Queria eu fazer poemas de instantes:
Desenhar nas palavras esses ínfimos detalhes minuciosos
Que antes eram da natureza
Mas agora estão completamente roubados pelos meus sentidos.
Ou talvez roubados sejam os meus sentidos
Porque mais parece que me perco do mundo ao observar:
Pois é tão ínfimo e delicado
E por vezes patético aos sem sensibilidade exacerbada
Isso de ver a água em uma poça mexer ao tilintar do vento.
A água dança com suas ondas
Leve ou feroz.
Ela não tem suas próprias notas ou passos
Mas deixa ir-se ao toque do vento
Ao seu som
Som que chega apenas aos meus ouvidos
Pois a água não escuta
Ela sente
E se deixa ir.
Quem dera fôssemos nós assim tão sensíveis
A ponto de deixar-nos ir pelo que nos toca
Sem precisão de palavras ou explicações
Apenas sentidos
Sentidos dentro de si.


Marina Cangussu F. Salomão


Rhossili, Wales - 06/05/2015

Ciclos

Rhossili - Wales


E fez-se silêncio na água cristalina
E pude ver-me tão bem quanto ela
Assim clara e funda
Até as areias erodindo das rochas
Desgastadas
Do sustento

Era isso que procurava
Disse à mim mesma afinal
Até em sonhos já dizia-me o inconsciente
Repetidas vezes

Foram necessárias enxurradas
Algumas altas marés
Outras tantas ondas
Ate que chegasse ali
Sutil e leve
Sem dor, sem peso, sem turvamento
Para olhar profundamente
E conhecer como sou conhecido


Marina Cangussu F. Salomão

Fuga de ideias invisíveis - Rocha

Sou essa que se deita na rocha
Sem pressa de voltar.

Voltar para quê? se é a partida que importa

Então parto-me em migalhas e jogo-as ao vento
À espera de brotar em algum lugar

Eu sou essa que se deita
Esperando o terreno fertilizar.

Marina Cangussu F. Salomão

Sonetos e passos

Sempre encontrarei aquela música a surrupiar-me de meu eu
A enfeitiçar-me a ponto de perder-me em meus tons e sons
Feito um breu
Onde apenas minha luz girando em si 
Feliz por se levitar tão fluida
Apenas ela é vista
Sim
Eu sou essa alma perdida e descontrolada
Até tocar-me as notas 
Que sintonizam-se com o ritmo de meu ser mais interno
Meu ser essência e sem regras
Sem violações
Eu sou dançante junto ao espelho
Eu sou alma livre e solta
Sou luz que transborda amor 
Ao perder-se nos passos de tilintares sonoros
Sou bailarina
De sonetos e passos
E meu corpo e minha alma fazem poesia
E quando se encontram nos mesmos timbres
Se fazem extra mundo
E se sucumbem em númen.

Marina Cangussu F. Salomão

Fuga de Ideias Invisíveis - Parto Normal

Mude
Não pra nude
Mas te coloque tons
Te coloque cores
Te coloque amores
E depois parta
E farta
E Marta.


Marina Cangussu F. Salomão