domingo, 23 de setembro de 2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Felicidade

Vivo na espera 
Em que seus pequenos passos
Se movam harmonicamente à saída
E encontre a liberdade que a espera
Lá fora

Marina Cangussu F. Salomão

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Olhos de boca e a poesia


Queria me jogar pelas ruas 
Arrancando as poucas roupas 
E mostrando minha perfeição. 
Desenvolver minha arte 
Na verdade que me envolve.
Queria ridicularizá-los
Amedrontá-los 
Arrancá-los como a meus panos 
E surrá-los ao chão. 
Queria minha poesia escancarada 
Aos olhos que falam.
Mas consigo apenas poemas contidos 
Do meu amor.

Marina Cangussu F. Salomão

Boca

Acostumei-me ao toque leve de teus lábios
Em toda sua maciez e ternura
E posso descrever cada curva 
Cada sobressalto
Quando seco ou ao meu lado
Sinto-o de dentro para fora
No tocar sutil de tua 
Mais cândida demonstração
Quando leve ou sedento
São carinhosamente 
Meu rebento solto
Que me percorre 
E é minha posse

Marina Cangussu F. Salomão

Formigueiro

O formigueiro prossegue
No balancear frenético
E se enlaça e entrelaça
Baldeia, retorna, entorta e cai

E eu vou no meio dele
De um lado ao outro
Contorcida de olhos abertos
E quero tudo de cada um

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Amado


Para Eduardo Cardoso
Amava cada segundo de tua maciez
Cada contorno e cada curva
Todo sobressalto da pele
Todo seu relevo e deslize
Amava seu tom e sua cor
Seus detalhes, seus brancos
Suas cores e seu negro
Amava-o inteiramente
E não sabia como não tê-lo
Em todo o futuro que viria
Em todo seu tempo
Amava cada ternura
Cada pigmento e sofrimento
Cada delícia de sorriso
Amava-o em todos os meus sonhos
Nos míseros pensamentos
Nos pequenos contentamentos
E em toda a vida
Amava-o e bastava.

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

O soluço guardado

Para Binhazinha

Posso voltar para os teus braços
E esquecer a existência desta vida
Mas toda essa rotina inquietante me assusta
Na mesma repetição do antes, 
Porém agora, de toda forma incompleta

Mas ninguém vê sua inexatidão
A astucia com que me rodeia e percalça
E me impede de não seguir por esta vereda 
De verde alto ou baixo. Pouco importa!

O que importa é que o caminho 
Não deveria continuar reto
Nem as pessoas tão sérias ou risonhas
Nem eu deveria tentar reerguer-me
Já que o chão me parece mais seguro
E a sua falta mais ardente a cada dia

E dizem e dizem sobre mim 
E sobre os outros
Mas nem sei quem são: nem a mim
Teus braços me tiraram o espelho nítido
Quando resolveram que podiam me deixar

E agora tenho que ser forte, 
Sobreviver por aqueles outros
Antes tenho que por meu próprio pé em mim

Mas no silêncio dessas lágrimas
Não é nada do que me aquece:
Talvez perdida seja o caminho

Marina Cangussu F. Salomão

Desabafo dos choros

Hoje andam e pedem companhia
Antes jazia a soledade sem fortuna
A perambular entre os olhos afoitos
Que retiram sua esperança para nutrir-se


Pau e pedra se torna o coração
Pois nos rodeios de histórias
Pediu assombrado uma mão


Hoje clamam pela companhia
Antes soltavam-te nos primeiros passos
Sem treino pelos guias 
Andando nas bases recortadas

Pau e pedra se torna o coração
Pois nos rodeios de histórias
Pediu assombrado uma mão

Marina Cangussu F. Salomão

Zurzo

Se pudesse calar-te
Na louca lucidez das ruas
E quietar o ulular
De teus tons terríveis,
Pobre ungulado pedinte,
Faria-o casto aos olhos
E belo ao espelho
E daria-te vozes vesanas
Para verter teu vetusto
E tua imaginação

Marina Cangussu F. Salomão

O teu coração

Rodeia-te severo
O olhar das culpas
A venerar razões
E desonrar verdades

Rodeia-te o sumiço
E os palavrões
Sussurrando leveza
Escondendo o herói

Rodeia-te inópia
O afago dos abraços
Cruzando os teus castos
Lindando-te.

Marina Cangussu F. Salomão

O fim do caminho

Pedi-te com todas as lágrimas
Que permanecesse estático
No abraço que te deixaria
Mas reteve-se no antes
E deixou-me desculpas
Que depois retornariam

Marina Cangussu F. Salomão

sábado, 8 de setembro de 2012

Cortina rasgada

Os bonecos foram colocados na estante mais distante
Redecorando a sóbria parede do quarto sombrio
De costas não veriam com seus pequenos óculos
O que no meio do quarto se construía
E só no final os viraria
Sem entender
Se aqui
Ou no outro
Ainda tinham vistas
Ou se as grandes asas abertas coloridas 
Cresceram só sem sua inveja e sua vontade inquietante
E aprenderam a saltitar em sua própria áurea clarinante
Em tilintos sem casulo e sem estrelas no noturno

Marina Cangussu F. Salomão