domingo, 19 de outubro de 2014

O final do livro

Não é minha a pena
De estar só somente
E desvairada
De estar plenamente
E acabada.

Marina Cangussu F. Salomão

sábado, 18 de outubro de 2014

Jurado

Acuso-te de vãs desonras
Para desfazer-me de teu pesar
E sentir-me feliz apenas com minha infelicidade.
Acuso-te.
Sou eu a vã sujeita de nosso caso.
A réu. Desmerecida de clamor
Ou misericórdia.
Porém permito-me um último estalo
Na escuridão de minha malfeitura.
Pois acuso-te
Inocentemente de desfarias
Rebaixo-te de teu posto por desgosto
Mas também por perdição.
Porque foram tantos anos acumulados
De incertidão
Delineados de buscas incompletas
Que o pesar das contas
Tornou-se uma questão.
E eu que sempre acreditei
Que romances findavam por desavenças
Vejo-me diante o desamor.
Mas de afeto desesperado pergunto:
Por que tão triste fim
Ao melhor dos perdões.
Por que tão vil e insana a minha desumanidade
Desmerecida da lealdade.
Por que estas minhas raízes podres
Perdidas. Negando seu chão.

Marina Cangussu F. Salomão

Gramática

Gosto de teu adjetivos 
Tua boca
Teus sorrisos
Gosto de teus textos descritivos
Tua prosa.

Mas o que mais gosto mesmo
É de teus sujeitos
Em meus verbos

Marina Cangussu F. Salomão

Auguro

Eu amo as nossa memórias 
E as nossa histórias que ladrilharam nossos caminhos
Comove-me nossos instantes de loucura 
E nosso apaziguamento
Nossos desejos intensos de ser um
Nosso desvairamento
Eu amo nossos sorrisos
E quando nos olhávamos profundamente
É bom lembrar de nossas planos
E do quanto nos seguramos contra a corrente
Eu amo. 
Eu amo. 
Eu amo.
Quero repetir mil vezes para gravar dentro de mim
Mas não é isso o que o tato sente
Sozinho, desolado
Sem metas, esperanças ou futuro
E não é isso o que as falas mentem
Seguras em seu auguro.

Marina Cangussu F. Salomão

Poema do Corriqueiro

Saudade é a melhor coisa para saber quem se ama
Mas não vá julgar o amor pela saudade
Pois ela tem sua trama

Marina Cangussu F. Salomão

sábado, 11 de outubro de 2014

As coisas belas



As coisas belas da vida 
são as que já estão prontas.
Prontas para serem admiradas.

Fez-se calmo todos os sonidos e grunhidos de minha alma interna.
Não incomodava-me sequer suspiro adiantado 
Ou atrapalhado no querer de seu tempo
Todas as minhas partículas flutuantes seguiam seus percursos
E mesmo que meu sol começava a esfriar, 
Ele continuava ali, doce ou amargo.
E fez os sons em meus ouvidos entrarem mais claramente 
E perceber que os últimos instantes de um dia podem ainda ser vistos
Intensos e loucos.
Com uma intensidade que vem dos olhos, 
Claros, calmos, singelos. 
E uma loucura que não é minha, 
Mas que me comove, me move, me afeta.

Felizes todos esses pássaros deste meu cenário.
Que me trouxeram de volta antes do fim do entardecer.


Marina Cangussu F. Salomão

domingo, 5 de outubro de 2014

Segundos e primeiros

E você passará
Como tudo na vida se desfaz.
Então chegará o dia em que a tarde pela janela, 
Antes nunca vista, 
Retomará àquela cor estranha de perdição.
Não de pecado. 
Mas de perdido.
Estranho.
Vazio.
Desconhecido.
E o cenário ficará ali sobre o seu olhar
Analisado.
Instável.
Estático.
De novo o jamaisvù.
Porque na vida nada é como nossos olhos veem 
E tudo se desfarela no toque.
E essa tarde também será outra 
No próximo abrir de olhos após o piscar
Pois é tudo tão passageiro
Tudo tão frágil
Que deveríamos acordar todos os dias
Com os olhos prontos para um novo óbvio.
Porque um segundo atrás ou à frente
Muda o rumo inteiro.


Marina Cangussu F. Salomão

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Amores desconhecidos

Olha para mim.
Me escuta.
Já tem tempo, amor, 
Que esses nossos pedaços se remodelaram
Que as nossas extremidades se afiaram
Que a gente viveu de memória.
Já faz um tempo
Que nossos remos foram embora
Que nós mudamos a trajetória
Que cada um tem o seu mundo.
Já faz tempo
Que tudo nosso acabou.
Mas continuamos amando nos amar
Apesar de não nos amarmos mais.

Marina Cangussu F. Salomão