sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Auto

Dentro de mim
Bastam meus órgãos,
Neste corpo ínfimo e magro.
Não preciso que mais nada se acumule em quinquilharias presas sem vazão.
Que nada trave meus canos de exaustão.
E é por isso que vomito tudo o que me atravessa sem alcançar o lado oposto
Tudo o que insiste em decorar o meu rosto
Vomito palavras, carinhos, afetos e tatos
Vomito perdões, culpas, blasfêmias e autos
Vomito...
Deixo tudo partir.
Os empurro por penhascos
Liberto
Liberto-me de meus pesos
Levito-me em leveza.

Marina Cangussu F. Salomão

Domingo

Deixe o dia escapar
Da varanda de tua casa doce
Com cheiro de erva fresca e molhada
Deixe as horas passarem mansas
Sem pressa para finalizar o café
Sem pressa para evaporar no ar
Deixe ir indo a manhã sadia
Que entra com brilho pelos vitrais
Deixe que o dia acorde e levante
Enquanto ainda se conta 
As primeiras notícias dos jornais
Deixe o sono passar sutilmente
E a vida andar vagamente
Cheia de sorrisos.

Atenas, Grécia - 18/12/2014

Marina Cangussu F. Salomão

Segundos ao sol

Tão bom sentir o sol queimando a pele
E sentir a pele na pele
Sentados neste banco ao sol
Brincando de fazer futuros
E gravando presentes
Junto às lentes que memoram
Como olhos atentos
Cada um dos segundos

Marina Cangussu F. Salomão