segunda-feira, 27 de abril de 2015

Absolvição

Pisei em lugares fantásticos
Mágicos de tanto poder
Pisei. Coloquei os pés
Naquilo que chamaria de moinho do mundo
Fui atrevidamente
Não ser passante
Mas observante
Absorvente

Marina Cangussu F. Salomão

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Papéis

Eu sempre conversei com os papéis
Sempre disse a eles o que eu sentia
Os mostrava quem eu era em meus instantes

Eles guardam meus segredos

Marina Cangussu F. Salomão

Roteiro

Paredes de Coimbra - 03/2015


Iam as senhoras comedidas,
Remediadas, castradas
Seguindo a menina
Obedeciam.
E ouviam a menina em seu
Solilóquio de liberdade, poder,
Equidade
E punham o pé para fora
E liam frases de paredes
E sorriam

Se tornavam donas de si.

Marina Cangussu F. Salomão

Rimas feito Ímãs

Eu encontrei a mim mesma
Nos passos de uma dança
Nos altares de uma trança
Em uma poesia

Eu encontrei os rumos que me podiam
Os laços que me queriam
Poesiam

Eu encontrei o retrato
Eu encontrei o espelho
Vermelho

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Viéses

Via-se pela janela os namorados
Sentados junto aos trilhos
Vendo o trem partir

E eram trocas de olhares aquela de trens e namoros
Na cabeça de uns o 'vá-se logo para nos beijarmos'
Na de outros 'adeus'

Que milagre aquela cena:
Algumas partidas não são doloridas

Marina Cangussu F. Salomão

Delineamentos borrados

Eu me tenho perdido
Enquanto guardo em mim a tua sombra
E me perco neste teu breu que te compõe
Onde escondi-me por anos

E já não sei aparecer
Não sei mostrar-me ao público
Não sei caminhar com meu rosto pelas ruas

Sei ser tua. E nada mais.
Tua escura penumbra.

Esqueci-me de carregar meu nome
Não sei ter a minha imagem
Não sei ter de volta os retornos
Ter de me colocar nos contornos
Que não são teus

Marina Cangussu F. Salomão

Café-da-tarde

Estava sentada a moça
Contemplando a tarde amarelada
Sentada em banco de seu quintal
Estava lá só e meio triste
Olhar distante e perdido

Ia observando o movimentar da vida
O ajeitar de pequenos seres
E como se compunham tão vivos em poucas gretas

E via subir formigas pelos tijolos
Abandonados e enlodados
Carregando outro inseto para o jantar.
Via também algumas moscas
Zumbindo as flores
Pedindo algo para alimentar.

E sentia o vento movimentar
O verde e o colorido daquela cena
Trazendo o cheiro doce de café-da-tarde
Que entrava-lhe tão familiar

Então a moça sorriu
Era simples a vida
Seu momento de fartar.

Marina Cangussu F. Salomão

Caminhada na Primavera

No caminho encontram-se coisas:
As coisas novas
E as coisas velhas com suas novidades.
No caminho se descobrem as velhas coisas desconhecidas
Sempre guardadas
As coisas ali plantadas
As coisas com suas velhas singularidades.
No caminho se descobrem as novas coisas amanhecidas
Bordadas de surpresas
As coisas ainda não adormecidas.
Todas elas esperando seu tempo
Em seu lugar.
As coisas esperando apenas você passar.
As coisas assim bem como são:
Todas florindo.

Marina Cangussu F. Salomão