segunda-feira, 7 de maio de 2018

A maré impossível

Mar,
Posso ficar aqui sendo banhada por tuas águas?

Me acalme. Me afogue.
Dê-me ar aos pulmões. Retire-o de mim.
Pois há tanto cansaço ali fora.

Posso derramar-te tudo aquilo que me vem profundo
Encharcando-me mais que a ti?
Falo dessas coisas que consternam ao olhar o mundo...

Posso, mar, ter-te me envolto
Para que me protejas e me ensines a seguir
Apesar de marés e invasões?

Sim, sinto-me invadida desvairadamente 
Todos os dias
Nesse jogar de mundos em minha cara
Como tapas (ou pior que isso).

Chega um ponto que o único que quero que me invada é você, mar,
Cheio de segredos da vida que ainda me falta descobrir.


Marina Cangussu F. Salomão

Poesia com fim

Há chuva lá fora
E aqui dentro é apenas música
Alta, expansiva
Ocupando todas as gretas das janelas e portas fechadas
(He doesn't like to open up very much)
E o cheiro de nosso suor com banana cozida
Para o desjejum.

Nas ruas correm crianças negras.
Me diz o que fazemos aqui: 
tão estrangeiros!
Quem vai entender esse casal de loucos
Com suas dores familiares 
E alguns amores complementares?
Afinal, no fundo, a resolutividade dele é só amor
E a minha doação é a transformação de meu rancor

Lá na esquina da vista da janela do quarto
Que abro para fumar o meu último cigarro da vida
Há uma menininha de 3 ou 4 anos em seu balanço
Tão entretida em seu próprio mundo e imaginário
Que me comove

Acho que ela é como nós
ou nós como ela.

Imaginando mundos de unicórnios de salvação
Salvação de guerra, da política do país,
Salvação da história de nossos pais
E de tudo mais que envolveu a nossa conversa pré-sexo
(Ai loucos!)


Let us, at least, live our lives, Marina. He said inside my mind.

Aí o poema acaba.


Marina Cangussu F. Salomão