quinta-feira, 30 de julho de 2015

Malas

Tantas roupas
Algumas jogadas e selecionadas.
Roupas velhas
Que já não me vestem mais
Antes favoritas.
Roupas novas de um passado estranho
Outras novas ainda no presente.
Algumas roupas para doar
Não dói deixá-las para trás.
Roupas emprestadas para devolver.
Novas combinações de roupas
Conjuntos, vestidos, pijamas
Já não uso mais (durmo pelada).
Roupas para dois
Pares que mudaram de caras.
Mudaram também as cores.
Roupas com fedores
Outras com cheiro de lembranças.
Roupas que se abraça para dormir
Ou roupas que se veste por vestir.
Todas, ou quase todas,
Cabem na mala da volta.

Marina Cangussu F. Salomão

Punição

Vou castigá-lo
Como me castiga em minhas horas de espera
Por fazer-me acreditar em promessas
E fazer-me confiar-lhe segredos

Vou castigá-lo
Por permitir-me sorrir 
Ao deparar com tua respiração profunda e cansada
Com o seu corpo jogado e pesado ao meu lado

Vou castigá-lo
Por nunca envolver-me embalada
Toda uma noite de sono
Mas estar presente em todo o meu sonho

Vou castigá-lo
Amarrá-lo
Acorrentá-lo.

Como faço a mim,
Assim boba me entregando.

Marina Cangussu F. Salomão

Tangentes

Ele amava as coisas simples.
Desenhadas em números.
Coisas explicáveis
Descritíveis.

Como quando eu me sentava ao pé da cama
E havia silêncio no quarto
Ele dormindo
Eu lendo

Como a simetria do encaixe de nossos corpos
Deitados toda a noite ou dia
Deixando passar horas
Com chuva lá fora

Como o encontro com hora marcada
Uma escolha consciente
Uma surpresa esperada
Um café bem quente

Ele amava as coisas plausíveis
As tangíveis.
Eu, as da tangente.

Marina Cangussu F. Salomão

Alívio

Sinto alívio.
Essa é a palavra.
Por correr tantos metros e sentir a mim mesma em minha pele. Eu voltei. Voltei a me encontrar.
E não muito perdida, devo dizer. Foram tantas viagens, tantos cenários e cenas, que perder-me no labirinto de vidas era algo fácil, ainda mais se acrescido ao labirinto de meus pensamentos.
_Sim! eu encontrei o motivo dessa palavra aparecer em meus poemas: 
Não era a vida que se enrolava em si mesma afim de fazer-me perder, mas eu desdobrava meus pensamentos e amassava-os embolados em um jorro de sentimentos, que juntos se confundiam com um caminho perdido com várias opções sem saída.
Porém agora, após distâncias e novidades, pude perceber a minha pele viva e pulsante em meio ao meu labirinto criado. E depois disso foi fácil encontrar um caminho não reto, nem labiríntico, apenas tortuoso. Afinal, "perfection is boring", então melhor colocar adrenalina em penhascos, sofrimento em demoras ou curvas e muita felicidade no percurso. Um pouco clichê, eu sei. Mas acredite: verdade.
(Mas não me preocupo, mesmo este texto não deve ser perfeito, para não ficar tão chato.)
Só queria dizer que eu me encontrei em minha própria corpo. Aqui sedenta de mim mesma. Sedenta de ouvir-me e sentir-me. Sedenta de aceitar-me.

Marina Cangussu F. Salomão

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Spoiler

Eu nasci para ser poeta
Cantora
Dançarina
Mas me tornei só mais uma menina 

Chata

Eu nasci para ser perfeita
Sou de leão 
E também sou de libra
Nasci para ser sentida
Mas eu caguei com a minha vida


Escolhi uma boa profissão
Namorar com o mesmo cara
O primeiro
E nem pude ser herdeiro
Porque sempre fui segunda


Eu nasci para ser olhada
Camuflada
Safada
Mas estraguei todo o meu talento
Eu seria uma incontrolada
Inequilibrada
Porque nasci com tudo aqui dentro


Mas então eu categorizei
Coloquei na planilha
Eu nasci para ser perfeita
Mas estraguei isso
Me guardei em uma ilha

Marina Cangussu F. Salomão

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Histórias

A perda
Mesmo sentida
É linda
É lida
Literatura

Marina Cangussu F. Salomão

Casamento

Ao 541
Invadiram os quartos
Invadiram espaços
Invadiram minha alma
Compartilharam instantes bobos de comida na mesa
De choros sem lágrimas
De loucuras iniciantes
Outras tantas praticantes
E ouviram pelas paredes
Os traços, os rasgos, as linhas
Risadas
Amaram de frente
Ficaram pra sempre
Cada um em seu rumo
Cada um em seu turno de limpeza
Bagunçaram salas, cozinhas e vidas
E abraçaram juntas os chocolates na arquibancada
Ou a menina na balada (bêbada)
Foi amor em terceiras vistas
E segredos guardados na primeira
Foi tudo sem eira nem beira
Talvez com receio, meio medo
Besteira.

Marina Cangussu F. Salomão

Sobre a vida

Talvez a vida se esvai também 
Nesses pequenos instantes de majestade incontida
De grandiosas vitórias estarrecidas.

A vida amadurece em segundos
Em detalhes
E se embeleza alegre e sutil
Em momentos que duram meses
Mas que continuam poeira no universo do tempo indistinto

Tempo que torna tudo bobo, tudo a toa
Transformado
Tudo mudado, enraizado.


Marina Cangussu F. Salomão