segunda-feira, 27 de junho de 2011

Guardado

Vê que não te peço perdão
Não te peço verdades
Equilibro em trepidez
Mas é que minha razão clama
E meu coração hesita
Em displicências me refaço
Não há arrependimentos
Não te peço sorte ou sorrisos
Peço apenas que compreenda
Sou livre, e me recordo!


Marina Cangussu F. Salomão




Patético

Se pudesse ficar mais próximo
Cada vez mais próximo
Deleitar-me-ia em ti
Pois é tão sedenta minha alma
Que mal o vê e se agita
Louca por abandonar-me
E habitar seu legítimo corpo.


Marina Cangussu F. Salomão

Segredos

E jaz-se o controle
Em volúpia ardente
Aquebranta-se a ciência
Perde-se em sentidos
Mal desmancha-se
Com a ausência
Nem se nota sua perda
Em delírios famintos
Nada se constrói
A não ser segredos.


Marina Cangussu f. Salomão

Sonhador imponderável

Completamente flutuante
Já não se lembra
Da sensação humana
De tocar o chão
E andar em passos
Assegurados de cautela
À deriva no ar
Brinca na brisa
Pouco ansioso pelo vento
Que ao chão faz sentir
E não importa quando chegará
É macia a brisa presente.


Marina Cangussu F. Salomão

Sofreguidão

Quero disparar correndo
Gritando sôfrega no meio de vós
Quero enlouquecer-me pungente
Arrancar os cabelos e rasgar as roupas
Quero gritar escandalosa e rouca
Até que todos me notem
Percebam o que sinto e senti
Até que todos vejam o que eu vi
Então eu possa ver o que veem
E sentir o que sentem
Porque quero um pouco de mim
E um tanto do mundo.

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Oculto

Sinto-me em um erro cabal
Constante e petardo
Que não me abandona
E não se apresenta
Convive-me inquieta
Insolene, imaturo, ingrato
E o mais pesaroso: apenas sinto-o
Não o vejo, não o toco
Nem o perscruto ou o instigo.


Marina Cangussu F. Salomão

Inatingível

Se prometerdes-me silêncio
Confiar-lhes-ei segredo
Tão mínimo e sensível
Permeia-se em mim
Vocação para extremos
Ah, Heresia!
A insensatez me consome prazerosa
E não morno arregaça-me
Desesperos e algazarras
Inclino-me ao chão
Ou elevo em infinito voo
Sim: vivo e sinto
Tanto mais penso
E debaldo-me em erros
Também ricocheteio-lhes com acertos
Confesso: dói-me aceitar
Ser menos que Helena
E inferior a David
Se decido ser, será cabal
Não restando-me brecha
Espaço que seja
Para deleite alheio
Por isso afirmo-vos
Não me alcançarão
No mais eterno esforço
Porque sou pessoa diferente de vós
Única como todos
E extrema em minhas vocações.


Marina Cangussu F. Salomão

Ao mendigo desta noite

Nasce do duplo sono mais uma ilusão: 
A de Ser no mundo e não pesar
E não haver pesar.
E faz-se caridade e faz-se suprema.
Não vê, porém,
Que afeto nem sempre afeta
E se o faz, machuca.
Ah! Mundo trágico!
Não se pode uma bela alimentar um sórdido
Ele lhe sorrirá
E há medo na confiança.
Por isso nasce do solo sonho mais uma ilusão:
O mundo é mágica
_nasce, cresce, morre e amadurece!


Marina Cangussu F. Salomão

sábado, 18 de junho de 2011

Era mais uma vez

Ela não sentia sua expansão
Anti-austera de exagero
E feliz, flutuante em mágica
Cegou-se para o trágico
Tão repleta e grande
Tocou as adjacências
Transmitindo-lhes afeto
Mas em retorno vê apenas
Olhares e abjeção:
Afinal o mundo é mundo.


Marina Cangussu F. Salomão

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Pedagogia

Há tanto pranto na existência
Que me despedaço em perguntas:
Se é mesmo real a vida de asas
Ou o alarido macio dos sonoros


Ressoam os autores em minha incredulidade
O desenvolver-se nas contradições
E constrói-se de angustias
E voa-se por pedras


Tesefica-se torto e circular
Tão mau que ama-se, tão caos que faz
Cospe, beija e deseja
Assim, vejo concreto em meu tato.


Marina Cangussu F. Salomão

Voe

Sei que me rendo a este sentimento
Calmo, vago e vagaroso
Que por vez se transborda e me toma desesperado
Confundindo-se partes. Esquecendo-se do todo.


Mas não me peça para reduzir o alcance
Nem desdesenhar o meu voo
Não diminuirei a exibição
Nem sequer reservarei minhas asas.


Assim como não desfarei o ninho
Não poderá dizer sobre os meus longos voos
Permanecerei de asas soltas
Grandes, abertas, infinitas.


Sentirei o vento bulinar minhas penas
E assobiar brincadeiras em meus ouvidos
Assistirei lá de cima todo desvelar de fatos
E sempre o levarei aonde quer que eu voe.


Poema dedicado a todas as Mulheres: 
Pelo direito ao ninho e de continuar voando!


Marina Cangussu F. Salomão

Gota

Desenha-se a gota que cai
E tão pequena se expande
Tão pouca e tanta onda
Revira a água inteira
Atinge as águas longe
Transmite-se singela
E se funde às outras
Unida se percebe e recebe
Revolta-se no chegar de gotas
Eleva e aumenta
E não mais pequena, molha
E grande se torna na poça.


Marina Cangussu F. Salomão

terça-feira, 14 de junho de 2011

Rua

Seria louco e lamentante
Não perceber os olhos que vão
E chegam e passam
E veem e pensam
Às vezes longe, indistintos
Ou mesmo perto e faminto


Seria insonso não perceber
O olhar flutuante
Cheio de sonhos ou mesmo dor
Outros lamentos, outros amantes
Numa mistura extenuante
De suor e vigor.


Marina Cangussu F. Salomão

Epifania

Eu canto porque o canto existe
Não sou humano nem triste
Apenas vagueio orientado
Por trilhos lambidos
Que de suor pregueiam
E faz-se só no alarido mórbido
Turbilhado de pensamentos alheios
E impossível de parar 
E sentir a divindade
Permaneço estático no bulir enérgico.


Marina Cangussu F. Salomão

sábado, 4 de junho de 2011

Panaceia

És tão complementar solto em mim
Que se dissolve e se perde
E misturado a minha cobiça
Não há distinção entre nossas linhas
Casuísta me despedaço
Em teus dedilhos leves e petardos
Como aurora rosicler,
Que se confunde com o fim do dia,
Palpitas em mim, denso e pesar
E supostamente roufenho
Faz-se fausto e voluptuoso
E de minha boca brota apenas:
Shraddha!




Marina Cangussu F. Salomão

Sonhidez

Palavras repletas de ocupações precoces
Destoam do silêncio remediado
E entre tempos some-se outro
Perde a essência da finitude


Quisera controlar fatos
E consertar prelúdios
- dir-se-ia em versos melodiosos
Mas nunca se toca o abstrato


Faz-se contorções em caixa mágica
E altera o que se espera
Porém não muda a rota ou rumo
Apenas depara e cala


Não se vê tempo no decorrido
E as palavras fluem independentes
Os planos irrelevados se esconde.
Adeus, Doce Quimera!




Marina Cangussu F. Salomão