terça-feira, 30 de abril de 2013

Minérios carregados entre morros acortinados de teu estado

Já não quero comer
Nem beber
Nem ser

Me consome a culpa vadia 
A escrafunchar lixos e desordens
A averiguar milordes
A abotoar minhas vestes
E colorir meus olhos
A destampar minha face 
E querelar entre as cortinas

Despossuindo o ser
E invadindo meu querer

Derramando-me sóbria nas ruas
E retirando o meu espírito
Fugaz... 

Fugaz alma que carrega.


Marina Cangussu F. Salomão

Tatear

Quando sozinha 
A beleza sucumbe 
No perecer finito das tranças.

E já não há mais nós.

Nem arisco.

A espontaneidade despedaça-se intrépida.
Desonrada e infeliz.

Marina Cangussu F. Salomão

sábado, 20 de abril de 2013

Aos (d)espertos

Silencie teus longos chafarizes descobertos
Na repletude do tempo que pisca junto aos ponteiros,
Então defina a hora que perde no arruaceiro de tua inquietude.

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Perdidos

O tempo não recebeu a absolvição pelos seus pecados
Permanecendo na trilha de seus arcados
Corroendo lamas e calçados
Na desesperança dos achados
Entre os perdidos.

Marina Cangussu F. Salomão

domingo, 14 de abril de 2013

Abraço

Se pudesse abraçá-lo em toda sua escara
Quereria abandonar esta tua dor
Levá-la para longe no abraço de meu colo
Com todo o sangue que rodeia tua ferida:
Aberta, afoita, que te limita.
Tiraria tua solidão e teu medo
Esta visão de fim daquilo que te sustenta.
Tiraria esta alma enegrecida.
O desabamento de teu corpo.
Ah se eu pudesse, Antônio.
Mas me despedaço inacabada 
E o deixo incompleto, 
Com um buraco em meio à vida. 
Porque o único consolo é tua esperança 
E tua saudade. 
Tua vontade de retornar.

Marina Cangussu F. Salomão

Sigla

As lajes latejam lajotas...
Nas costas sumarizadas
Dos resumidos
Panacas castrados.

Marina Cangussu F. Salomão

Acordar

Ele acordava de cara amarrotada
Embaraçada
Anuviada.

Ele acordava abobadado
Desperdiçado
Acovardado.

Ele acordava no meio da praça
No meio da rua
No meio da raça.

No meio da vida
No meio da fossa
Bem na saída.

Marina Cangussu F. Salomão

Rua


Umas grandes
Outras pequenas.
Umas bonitas
Outras amenas.
Uns tortos
Outros mortos.
Uns bem completos
Outros bem repletos.
Uns bicos
Outros salpicos.
Enquanto uns sabem
Outros descobrem.
Uns frio
Outros recobrem.
Uns solos
Outros colos.
Uns soltos
Outros envoltos.

Marina Cangussu F. Salomão

Alusão


Ando perdida nas variações de teu querer
E não sei ate que ponto caminhar em seus braços
Ou ate quando deixar-nos livres em redomas
Ouço seus ditados e a eles também não sei até onde ouvir
E então vou sentindo quieta a amargura a sufocar-me
Já não sou tão feliz e segura
E meus passos já são vacilantes
Impossível saber até quando esperar
Mais impossível é ter que me preparar
Estar ciente da perda ou do ganho
Na verdade, impossível é dizer estas palavras
Que oscilam junto a mim
Em querer e desquerer
Encrencados em dúvidas e recheados de culpa
De permissão de remissão
De desnorteio e pouco freio
De desilusão

Marina Cangussu F. Salomão