terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Inconsequente

Se a tristeza volta ao meu coração
Não é porque ando taciturna
Ou porque meus olhos foram vendados.
Mas diante de todo o verbo
Existe apenas a imagem das consequências


O ritmo das ondas leva à ressaca
E o mar acolhe todas as pequenas areias.
O cheiro das flores é encantador
E a árvore sustenta todo o peso dos frutos.
Existe para eles apenas a mesma imagem


A observância nos diz então:
Só é capaz de escolher quem sabe abraçar
Abraça-se o que é seu, o que lhe condiz.
Acolha no peito suas consequências!


Marina Cangussu F. Salomão

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Deste mundo

Tenho medo deste mundo
Mundo que afoga
Na espuma da ressaca
De ondas inquebrantáveis


Tenho medo deste mundo
Mundo que despedaça
Cada mísera construção
De desejo ilusório de compaixão


Tenho medo deste mundo
Mundo que escorrega
Pequenas lágrimas de pranto
Pelas faces inocentes


Se permite que te peço
Leve-me para o campo infantil
Dos sonhos que povoam a noite


Retire meu corpo dessas brasas
Abrande a destruição de meus anseios
Poupe toda pureza de minha alma.


Marina Cangussu F. Salomão

Futuro

Como se o futuro já não existisse
Todos os meus sonhos se esvaíram
Como se não me fosse permitido a felicidade
Devo retornar ao caos.
Mas já não tenho forças...
Como se eu preferisse o fim
Quem sabe eu ainda me encontre!


Marina Cangussu F. Salomão

Um sentido

Os pensamentos não param de fluir
Julgo a boca muda por intensificá-los
De repente as diferenças são tão intensas
E o silêncio impulsiona a refletir:
O que me leva a tanto alheamento?
É ele que potencializa a hipocrisia
_outro dia fui eu, quanta gratificação!
Hoje finjo: é por me sentir diferente que calo.
É apenas um sentido.
Não sou quem penso ser
_é o que dizem.
Sou, então, a ilusão de mim.


Marina Cangussu F. Salomão

A força dos meus sonhos

Cansei de lutar contra o mundo
Cansei da luta contra mim mesma
Tento desistir do desgaste frívolo
Mas o que lhe é intenso permanece
Então, lembro-me daquela vez uma voz:
"Apesar das ruínas e da morte,
Onde sempre acabou cada ilusão,
A força dos meus sonhos é tão forte,
Que de tudo renasce a exaltação
E nunca as minhas mãos ficam vazias."*

Desejo triste de não repetir erros
Sonho dramático de fazer a mudança.
No mundo nada vejo mais que terror
-perdoe-me a ingratidão!
Mas que posso basear-me nele?
Se terríveis são seus frutos
Contrário a qualquer obra de amor
Lança-me apenas medo de vivê-lo.
Afinal, disse-me uma vez uma voz:
"[...] o mundo passa com seus desejos insaciáveis."**


Marina Cangussu F. Salomão

*Sophia de Mello Breyner Andresen
**1João 2,17

Leões

Sinto falta da felicidade...
Finalmente descobri que ela
Não está na realização dos anseios
Talvez esteja no outro
Ou em nenhum lugar
Quem sabe em mim...
Eu não era assim tão triste
Assim tão nula
Ela existiu em mim antes
Palpitava, transbordava
Permanece o rosto infantil
Mas sem os brilhantes olhos
Diga-me: os leões são triste?


Marina Cangussu F. Salomão

O que não se faz por amor

Abandonaria o trépido gosto de estar junto
Subjulgaria à força dos sonhos
Passaria tardes olhando as nuvens pela janela
Faria tudo isso à espera do amor


A expectativa fina e taciturna
Que rompe com agudos tracejos a membrana
Que armazena todas as ilusões pendentes
Sentiria tudo isso à espera do amor


Perante as tardes melancólicas infinitas
De frente do silêncio da casa vazia há miríades
Diante das sobras que ninguém retirou
Enfrentaria tudo isso por amor.


Marina Cangussu F. Salomão