terça-feira, 15 de novembro de 2016

Internalizações

Cuba é livre como eu
Vem de uma ditadura que lhe priva algo
Mas sabe ser mais livre que muita liberdade
Porque o povo é livre para sentir
E eu sou livre para ir e vir

Marina Cangussu F. Salomão

Terceiro dia em Cuba

O céu de Havana é negro às seis da manhã
Assim como a pele da maioria das pessoas.
E o céu de Havana tem estrelas que lhe brilham à noite
Assim como a pele de algumas pessoas.

E do Malecón começam as primeiras luzes
E nas sacadas tortas as primeiras pessoas
E na rua já se vão várias
Algumas porque precisam
Outras porque acordam

E às seis da manhã se ouve pessoas e nenhum carro
Havana é a cidade em que se escuta mais pessoas do que carros
Mas não pense que é silêncio
Aqui as pessoas falam 
E são ouvidas

E de minha sacada vejo algumas pessoas
E elas me veem.
Havana é a cidade em que as pessoas se mostram
E são vistas.
Havana é a cidade das pessoas.


Marina Cangussu F. Salomão

La Habana - Cuba
24/10/2016

Vontades de revelações

Alguns segredos eu guardo comigo mesmo

Como a sensação de algumas ruas
O cheiro de outras esquinas
Impossível dizê-las com detalhes

A vida é algo egoísta às vezes:

Que o melhor de mim não poderei dizer
Então digo apenas de lugares que fui
De coisas que fiz. Prédios que vi
Vistas que presenciei.

E nunca vão saber de tudo que me vai guardado no coração

Porque/ Por que a vida não é descritiva...

_ Eu queria saber o que te vai passando em moinhos pelos pensamentos
Mas a mim ficaram só relatos e imaginações.

Quem dera eu poder escutar as coisas de seu coração.

Marina Cangussu F. Salomão

Contradicciones

Em Havana não tem sim. Não tem não
Em Havana não tem proibição
Me disseram.

Não tem preço no ônibus
Não tem assento preferencial
Não tem marquise na calçada
Quando chove a água é real

Em Havana não tem muita lei
Te pouca diferenciação
Em Havana tem padeira às 11 da noite
De muçulmano a cristão
(Mas Havana não tem religião)

Tem duas moedas 
Mas só uma é nacional
Tem um preço apenas
Para quem fala a língua comunal

Em Havana tem charuto e tem rum
E tem campanha de prevenção
Em Havana tem alguma contradição

Havana é livre na ditadura
Havana sofre é de bloqueio
Havana é feliz com pouco rodeio

Em Havana as pessoas são coletivas
As ruas parecem bagunça
As crianças com expectativas

Mas por aqui tudo funciona
Por aqui tudo pretenciona
A felicidade.


Marina Cangussu F. Salomão

La Habana - Cuba
28/10/2016

Tempo do Presente

As memórias com ele vêm tão ligeiras
Que recheiam-me com mil imagens e pensamentos
Gostosos como um dia de chuva,
Intenso em mim com sua rotina diária.

E o presente dele me faz desejos inéditos:
Como viver juntinho agora (e não depois).
E ele é tão macio e sutil que ele pode ser da cor de anil
De tão mágico e intuitivo a certeza que me causa

Fantástico! que mesmo depois de 390 dias 
Não consigo acreditar na energia que me invadiu
E que me permitiu estar aqui.

Marina Cangussu F. Salomão

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A claridade

Nem lembro mais de seu abraço
Nem lembro mais de seus traços

Engraçado isso da vida se perder
E a minha se perdeu por caminhos tão bonitos

Nada mais é labirinto:
Tudo é claro e com amor

E nem só digo de parceria
Digo de mim mesma:

A vida hoje me sai em poucos poemas: concisos e belos
Nunca mais aquela confusão medonha de meus erros.

Marina Cangussu F. Salomão


Das mudanças, medos. Motivações

Tão vagarosamente alguns pedaços se despedaçam
Que a falta já não lhes cabem mais
E vai a vida se refazendo
Como rocha em erosão:
Aquelas a se sedimentar
Em mover louco
Porém suave de processamentos.

_Para que medo? Perguntei.
Isso é apenas besteira de iniciantes.


Marina Cangussu F. Salomão

Princípios

Nós dois nus
Encaixamos 
Tão perfeitamente
Que quando
Nós dois nus
Encontramos
Foi como mágica
Para mim
Assim de repente: plim!
Tudo estava compreendido.
Mas para ele tudo é vagaroso
Desses que vai uma tarde inteira
De nós dois nus
Amando.

Marina Cangussu F. Salomão

Proseando

Já não escrevo mais poemas 
Desses rápidos, ligeiros e intensos
No chegar.
A vida encheu-se tanto de amor
Que a rotina agora é prosa.

Marina Cangussu F. Salomão

Sobre o instante da paixão

Como pode nesse mundo existir força que eu diria rara e tão grande, que possa atrair dois seres: não desconhecidos, mas indiferentes?
E como posso eu, dentre tantos bilhões, tão alheia, ansiosa e inquieta, percebê-la passar por mim por um milésimo de segundo e, em minha sempre confusão de pensamentos, decidir segui-la?
Eu, tão incerta, tive naquele momento, a possibilidade da certeza. 
E a ela me agarrei.

Marina Cangussu F. Salomão