terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Terra Torrada

Era seca aquela terra de meu deus.
A terra batida, a poeira subida
Tudo marrom-laranja de secura
A rua, a estrada, os muros, os sorrisos
Até a pele, ardida de sol
Quente.
Já era meio de dezembro e nada
Nem uma gota do céu
_Se continuar assim vou me embora para a praia.
Diziam os que podiam.
Mas era só promessa
Aquela terra era seca, ardida, queimada
Mas era amor, bruta, enraizada.
Era difícil deixá-la por completo
Aquela poeira nunca saía de si
Impregnava: 
Na roupa, na bota, no chinelo, dentro de casa
Até na vontade.

Teófilo Otoni, 22/12/2015

Marina Cangussu F. Salomão 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Atos falhos

Ele disse que gosta da rosa quando ela morre ainda em botão.
Sim: eu disse que concordo.
Mas acho que esqueci de dizer que gosto de todas as fases.
E gosto de quando ela se abre
E perde pétala por pétala
Numa morte lenta. Devagar.
Gradual.
Dói mais, eu sei.
Mas também gosto de sofrimentos intensos.
Gosto de tudo em extremidades.

Marina Cangussu F. Salomão

Der Liebhaber

Sie ist schüchtern und passiv.
Jedoch genießt sie es und sie ist wunderschön.

Sie nimmt von mir mit, was sie bekommen kann;

lässt sich treiben in meinem boot.



Wir wachen auf eng umschlungen und starten den Tag mit Sex.

Ich  trage nur das nötigste um raus zugehen und zu rauchen.

Sie sitzt neben mir und leistet mir gesellschaft. Nebenan ein Geschäft.

Die Blicke der kriminellen Kunden können mir nichts tun. Ich bin hier der Herr.  

„Jaja, schaut ihr nur! Ich verstehe euren Neid!“

Wehe dem, der es wagt es zu versuchen. Die Blicke verschwinden.

Es ist ein prächtiger, milder Tag. Ich blase ihr Rauch in den Mund und sie inhaliert.



Wir gehen zurück ins Haus. Ein herrlicher Tag. Eine Bootsfahrt.



Ich bin müde, habe zu viel Stress und liege im Bett.

Sie kann nicht schlafen, sitzt auf dem Boden und liest ein Buch.

Sie zwingt mich nicht zu Taten und drängt sich nicht auf.

Sie lässt mich in Ruhe, berührt mich nicht

und doch sind wir gerade so nah wie noch nie.

Sie gibt mir Kraft doch weiß sie es nicht,

wie sehr ich sie mag, wie glücklich ich bin. 


"_I met you as a dreamer
On your holiday
Everything was possible
But not now
You are awake."



    
C. W.

sábado, 12 de dezembro de 2015

Descaso

Foi o encontro do destino com o acaso
Ou o desencontro
Ou tanto faz.
Sei apenas que os trilhos ficaram soltos, 
Sem respostas ou decisões.
As escolhas sumiram e a vida ficou perdida
Num emaranhado de situações.
E sem saber onde passar
E sem saber se vai ficar,
As pernas andaram em hora ou passo exato
Ou errado. Ou de fato
Desataram sem caminhos, sem rumo para a razão.
E não era a vazão,
Porque a retidão era tão rara
Que da leveza não havia o que evadir.
Eram simplesmente corpos deixando as energias de guias falarem por si.
Era descaso com a vida 
Ou algum tópico dela.
Era deixar-se fluir
Ou talvez ebulir.
Era o destino e o acaso casados entre si.

Era o descaso
Formando encruzilhadas.


Marina Cangussu F. Salomão

Seus pelos

Gosto desses fios dourados
Que se escondem debaixo de sua cor marrom.
Mais parece que dizem aos que olham bem perto
(Esses poucos que têm a coragem de se aproximar,
Coragem de se deixarem tocar por sua profundidade)
Dos segredos que você guarda na alma
E que te trazem uma calma sem origem ou explicação.

São secretos de perfeição que você esconde

E que te fazem pertencer a todos os mundos de uma só vez.
E que te trazem mistérios sem porquês.
E que me contorcem por te encontrar em qualquer canto,
Nem que seja em sua nudez.

Talvez por isso sejam dourados
Para lembrar de sua nobreza ou beleza,
Para dizer-te especial.
Para que nunca te coloquem em uma mesa
E te tratem como um banal.

Mas assim como camuflados em sua cor

Você também se camufla para fingir ter um pouco mais de dor.
Esconde essa sua riqueza transcendental,
Essa sua alma perfeita,
Essa colheita de fundo de quintal
Muito mais doce e rara.
E finge ser apenas mais um mortal.
Pois ainda tem medo de brilhar
Muito mais que todos.
E tem medo de mostrar seu sem limite de contornos.


Marina Cangussu F. Salomão