domingo, 23 de agosto de 2015

Sobre o meu carma

Eu abro meus olhos
E o mundo parece de outra cor
Meu corpo ainda está jogado na cama
Inerte. Intacto. Sem dor.

Enquanto minha mente luta para não se lembrar
Que as paredes que me envolvem agora são verdes de esperança remota
E que ao meu lado não haverá teu corpo ainda sonolento
Insistindo em levantar
Enquanto eu peço mais um domingo ao teu lado
Naquele mesmo lugar.

Mas é de verde que meus olhos se enchem
Ao deparar com esse teto mórbido e frio
De meu quarto só e crio.
Recordando-me que a única coisa que me cabe é esperar:
Esperar que o tempo passe
Que já não haja vazio
Que eu me adapte
Que eu não me afogue no rio
Que eu esqueça
E esqueça você: assim, por um fio.

Enquanto apenas espero todo o dia por sua fala
Por minha volta
Por um milagre à minha volta.

Marina Cangussu F. Salomão

Preenchimentos

Sou triste todos os dias
Melancólica 
E me derreto, melada
(Como se exposta ao sol toda pelada)
Exagerando minha perda e sofrimento
Criando confusões aqui dentro, engarrafamento.

Tiraram você de mim
E não foi morte, suicídio ou assassinato
Foi apenas fácil, escolha, um contrato
Mas morro como se estivesse de luto
E gostaria que o mundo se voltasse para minha dor
E que meu choro resolvesse a distância desse amor.

Não me diga para diminuir o drama
Eu sou exagero e gosto de excessos
Nasci com o ato dentro de mim.
E estou pedinte, mendigando
Peço poemas ou canções 
Mas nada sai de meu tamborim

Perdi o ritmo no desastre de meu exagero
E meu sorriso deixou de ser pleno
E meu choro agora é ligeiro.
Ah Marina! O que faço contigo e com seu vazio
Que você insiste em preencher com loucuras de sentimentos
E no final você vive assim: com arrependimentos.

Marina Cangussu F. Salomão

Estranhos

É estranho
Essas cores
Essas dores
Os amores.
É estranho.
E já foi dito tantas vezes
Que se tornam verdades
Em meus catálogos amarrotados
Onde busco a vida.
Acho que gosto de estranhamentos
A vida simples é chata
Para alguém tão incerta como eu.
Gosto de incertezas
Premeditadas.
Gosto das dificuldades
Nunca acalmadas.
Gosto de drama
Eu acho 
(ou tenho certeza).
Gosto do estranho,
Desconhecido,
Gosto de desvendamentos,
De vendar-me os olhos
Algumas vezes na vida.
É! Eu sou assim:
Estranha.

Marina Cangussu F. Salomão

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Present/Gift

To Chris
While you sleep
I fight to keep me alive
To do not melt in tears
To do not shatter in predictable futures

So while you sleep
I take the opportunity to admire (last times) your image.
I watch it in details to store in memory,
In this way, when I'm far,
I can, in my closed eyes, remind you.

Then now, I remain awake
'Cause I know that later I'll only want the dream.

So, I observe your most beautiful details:
I want to remember the shape of your face
So square and pretty
And each of your beard wire's root
Making it up soft and organised.
I also want the memory of your golden hair
With sweet and tender texture
Which carries your strong and seductive smell.
I want the touch of your smooth skin
And know by heart your outline.
I want your body temperature.
Your heavy breathing while sleeping
Or after our sex.
I want to remember your mouth design
Perfect in lineament and tastes.
I want to remember your colours, your smiles.
That side smile
When you still sleeping
Find me in your lips.
I want your silly words, your jokes,
Your body.

I want to remember and take you with me,
My distant and fleeting love.

[Translation]

Marina Cangussu F. Salomão

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Presente

Para Chris

Enquanto dormes
Luto para manter-me viva
Para não derreter-me em prantos
Não desatar-me por futuros previstos.

Por isso enquanto dormes
Aproveito para admirar-te (em últimas vezes) a imagem.
Observo-a em detalhes para guardar em memória,
Para que quando longe
Eu possa, em meus olhos fechados, recordar-te.

Por isso, agora, mantenho-me acordada
Pois sei que depois só quererei o sonho.

Então, atento-me aos teus detalhes mais lindos:
Quero lembrar do formato de teu rosto
Assim quadrado e lindo.
E de cada raiz de fio de tua barba
Que lhe compõe suave e ajeitadamente.
Quero também a memória de teus cabelos dourados
Com textura doce e macia
Que carrega teu cheiro forte e sedutor.
Quero o toque de tua pele suave
E saber de cor cada um de teus contornos.
Quero a temperatura de teu corpo.
Tua respiração pesada enquanto dorme
Ou após o nosso sexo.
Quero lembrar do desenho de tua boca
Perfeita em delineamentos e gostos.
Quero lembrar tuas cores, teus sorrisos.
Aquele teu sorriso de lado
Quando ainda dormindo
Me encontra em teus lábios.
Quero tuas falas bobas, tuas piadas,
Teu corpo.

Eu quero lembrar e ter-te comigo,
Meu amor distante
E passageiro.


Marina Cangussu F. Salomão

The bubble

It starts with simple pleasure
The seek for fun and aim for glory
Then a surprise
You get what you wanted
You enjoy what you desired
Fear
Your feet are losing the ground
You feel what you did not want to
Your  thoughts are spinning
But you know you won’t stop
And there is no doubt
You’re in the bubble
Made of possibility and hope
What if
The one true love was found
y o u   w a i t
for the deadlock to come
But it is vice versa
and you fligh higher and higher
No way out.
Relax
Enjoy
Enjoy yourself
We rise high in the bubble
And do not poke
but wait for it to burst

C. W., Leicester, 21.07.2015

Se soubesse menino

Após deixar-me ir
Não venha pedir-me para parar
Você não sabe o que sou capaz de fazer por amor.
E não digo do sentimento que tenho por ti
Falo do amor que temos por aí
O amor que continuarei buscando até tê-lo inteiro e completo

Pareço dizer palavras sem nexo
Mas descobri que o amor está solto e livre
E basta-nos ir 
Para encontrá-lo e sentir
Nunca agarrá-lo
Nem prendê-lo

Pois o amor não fica.
Ele não é matéria
Ele não é "ter"
Ele é sentimento
E cabe a nós apenas perecer

Então não peça-me nem para deixar de amar-te
Para que eu limite o meu perder nesse labirinto de tentação
Pois é tão doce o deixar vazão
Deixar tocar e sentir
Que não consigo achar caminho de volta
Nem quando morta
Nessa dor de partir

E se já não mais queres que eu te ame
Não te demores
O amor não é físico nem precisa de um corpo
O amor apenas vai sendo louco

Marina Cangussu F. Salomão