domingo, 29 de novembro de 2015

Catarse

O moço da rua 15
Disse para ela não se importar com suas paixões.
Ele era um moço estranho que lhe apareceu do nada
Profetizando variações.
Disse que ela não vivia nesses padrões definidos
Pois ela se alimentava de alma, e já não lhe bastava a calma
Em meio a tantos comprimidos.

Disse que a paixão dela vinha pelos olhos que ela lia
Pois ela sugava-lhes as letras para compor poemas
E, às vezes, descrevia temas
Outras eram apenas romances.
Mas não importava o gênero, beleza ou palavra
Ela lia o que ia dentro daqueles olhos sem trava
E se apaixonava pelo que a abalava.

E ela viu que era assim:
Que aquelas almas que ela tocava não lhe davam paixões carnais
Nem vinham para confundir-lhe os jornais:
Era amor mesmo o que ela conseguia
Era amor o que lhe enchia todo o dia.
E sempre foi assim: cachorros, formigas, trepadeiras, flores, árvores, chuvas, humanos
Ela sempre fora sensível a esse ponto
E sempre sentira o que as coisas queriam dizer
E dava-lhes o que lhes caberiam ter

E ela se entregava a essa capacidade que todos têm
Mas que quase todos perdem ao nascer
E que alguns, inclusive, morrem sem saber

E de tanto sentimento incabível em um corpo humano
Tanta troca e empatia
Chegava-lhe à pele e aos órgãos o que sentia
O que o mundo lhe trazia.
Os médicos chamavam de somatização
Mas só quando ela ficava doente.
O que não sabiam era que doença não era o todo pendente:
Ela somatizava quando era amor também:
Ela sentia com a alma e dançava com o corpo e falava com os olhos.
Mas não eram poucos os que a impunham "porém".

Mas então ela se cansou, concluiu o moço avulso,
E resolveu apenas se entregar
E foi amar, mesmo sem contar
Para ninguém.


Marina Cangussu F. Salomão

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