domingo, 8 de fevereiro de 2015

Rota

De novo em um trem. Mas este foi meio do avesso,perdido e encontrado como única opção para irmos de onde estávamos para onde precisávamos.

Agora, as janelas encantam-me com um sol já posto antes de escurecer: ao longe montanhas azuis recobertas de neve, e em seu caminho casas: o rastro da minha espécie. Antes, no trem antecedente a esta conexão, ia a costa siciliana horas antes do sol ir-se: casas com o mar quase a invadi-las, pedras reluzindo uma mistura de basalto, água e sol e o oceano divino sorrindo-nos com ondas, ora mansas ora rápidas, escoando-se pelas pedras após seu festejo em véu ao encontrá-las.

Diante todo esse espetáculo apenas vejo-me agradecida por contemplar todo esse cenário:

Como é bom poder ir-se sem pressa ou desespero. E acreditar que, seja por qualquer que for o caminho, se chegará, em qualquer que seja o destino. É como se os remos não fossem mais úteis. E o vento, a correnteza e a maré cumprissem a função de levar-te aonde teus imensos esforços surpreenderiam-te. Onde planos são importantes para metas mas não para caminhos. 

E o melhor é saber que teus próprios esforços te trouxeram a essa canoa sem remo e sem rumo. E que esta foi a função deles, pois agora você já não se importa em controlar todas as rotas: abandonou o trabalho no farol para aventurar-se em qualquer das tantas rotas perdidas que antes angustiava-te por não tê-las seguras em seu controle.

E neste momento, a fala do Marmieládov em "Crime e Castigo" já soa em outro tom ao dizer da volta para casa: Compreende, meu senhor, o senhor compreende o que quer dizer isso de não ter para onde ir? Porque todo homem precisa de ter algum lugar aonde ir! Sim. Todo homem precisa de ter para onde voltar e agora já não te faltam lugares, passagens e pessoas aos quais um retorno seria salutar. E diversos cantos podem ser chamados casa e de qualquer forma os amores estarão sempre esperando.

Marina Cangussu F. Salomão

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