sexta-feira, 8 de julho de 2016

O amor e as precipitações

Ele sempre me foi um mistério
Um desejo recolhido nos segredos que nem sei
E que fugiam de meu esconderijo
De meu controle e por regozijo
Acompanhavam meu olhar
Nos sutis passos distantes daquele homem

Passos lentos que a mim chamavam atenção
E que mais parece que sempre me deram vazão

Nunca entendi bem de onde vinha aquele interesse
Sem fala, sem mala, sem rotina. Só olhares
Que não se encontravam

Mas que em algum momento
Desses perdidos trazidos no vento
Resolveram se olhar

E foi como uma rotina perdida
Que volta sem tempo para acomodações
Mas que se encaixa e se delicia
Sem medo de condecorações

E com o tempo se ameniza
Se agasalha e se espreguiça no sofá
E por retrato se percebe que ali nunca entrou de mala
E que na sala é o seu lugar

E hoje esse homem secreto
Que a mim me tomou por completo
Quando me abraça me causa sentidos:
O mesmo êxtase que antes sentia
Quando com ele eu fugia no pensar

Fuga perdida só em pensamento
Mas sem consciência, sem alento
Que só agora me vem na memória
Lembrando do tempo que a ele não sabia interpretar

Então mais do que nunca me ponho certa
De que amo esse homem entreaberta
Que em mim anda vagaroso desde o princípio
Amo-o sem querê-lo em linha reta
Assim deserta de seus erros e suas quedas
Amo-o com particípios
De passados ou presentes
Amo esse homem sem ilusões e sem castigos
E sem fingir-me discreta diante seus precipícios

Marina Cangussu F. Salomão

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