terça-feira, 5 de abril de 2011

Delírio de Quimera




Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.¹

Da janela via-se multidões abarrotadas
Empurrando-se, esgueirando-se
Ao longe havia uma voz lembrando
Do sutil espaço onde encontro-me

Não havia reconhecimento ou familiaridade
Mas a voz dizia dos sonhos imaginários
Da Utopia flagelante de meus pensamentos
E o doce desejo retornou pela tarde

Outrora afirmaria o destino me incubir 
De transbordar leveza entre rios de aflição
Hoje o vento transfigurante que carrego
Apenas desarruma a breve calmaria dos dias

Penso se nego o cumprimento de meu encargo
E os dias se vão soltos no tempo de reflexão
Me perdi da realidade vaga pelos meus labirintosos
E se as lágrimas me percorrem é por medo de não retornar

Mas basta-me a desesperança das imagens
Para fugir pelo fluxo ilusionista da imaginação
Sei do dever de persistir naquilo que me foi confiado
Mas me redimo da ingratidão ao perambular anônima

E a multidão desordenada que me perdoe
Mas não posso amá-la ou renegá-la
Sou capaz apenas de ouvir a voz doce
De meus desejos Morusianos


Marina Cangussu F. Salomão

¹Cecília Meireles in Canção de Outono



2 comentários:

  1. Não fosse a referência, tomaria por tua mesmo a poesia, sem qualquer distinção xD
    beijos Marina

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  2. Ah!!! Melhor elogio que podia haver!!! rs

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