sexta-feira, 27 de abril de 2012

Avesso

Ele não era perfeito para mim 
Nem possuía todos os apetrechos
Que minha fronte vintesca desejava
Tinha a doçura que meus dias anulavam
E não favorecia as retóricas de meu prazer
Nem sabia consumir-se em palavras
As lidas, faladas ou deambuladas
Deleitava-se em meu tédio
E irritava-se com meus agrados
Sucumbia no êxtase de minha argumentação
E discorria das felicitações com o vão:
Vazio e infinito como suas imensas horas.
E isto que me impressionou
Fazendo olhá-lo e completá-lo
Em minhas vils teorias
Debochá-lo em desinteressanteza
E de tantos cálculos e arrogâncias
Senti o rodopiar de suas travessuras
Do vento que o acompanhava nos pensamentos inexos
No instante charmoso que nunca vi passar
Intrometido em suas horas estranhas
De espontaneidade e singileza
E no afeto de seu olhar carente
Vi-me intranquila e infirme
Ridicularizada por minhas falas
Como ninguém via.


Marina Cangussu Fagundes Salomão

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