sexta-feira, 27 de abril de 2012

Os anos

   Disseram-me que poderia deixar de respirar para voltar à respiração ainda mais tranquila de um céu de boas promessas. Então fechei-me ao ar e adormeci esuqecida. Mas ao acordar de meu coma, minhas células haviam esuqecido de funcionar e rodopiar no esbanjo de tudo. E o que me restavam eram dores, hematomas e desconcertos de um inferno-fogo que nunca soube existir.
   Os pulmões não sugavam o ar ardente para não lhes queimar as entranhas. E as pupilas não sabiam se adaptar à luz vermelha nem mesmo à sua função de ver, pois fazê-la era o que mais doía e destruía as poucas células que tentavam sobreviver.
   Tudo parou. Enferrujados, sofrram a angústia da disfunção, da ausência de planos e do medo de tê-los.
   Não tinham mais por que vida lutar: as pernas se esqueciam que passos dar, o cérebro que pensamento ativar.
   Estavam confinados ao tal coma, sem botão propulsor, sem engate.
   Sem nada além da espera.

Marina Cangussu F. Salomão

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