terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Eleison

Kyrie Eleison
Por ver a ilusão ardente
No desejo cômodo de elevar
E contemplá-la com pena apenas
Kyrie Eleison
Por ver a cena errada
E temê-la em pés de afastamento
E afastar somente
Kyrie Eleison
Por ver a dor tomar a alma
Consumindo-a vagarosa
E calar-me inquieto
Kyrie Eleison
Por ver o todo engolir
Enlouquecendo a nova comida
E enfeitar-me em prato
Kyrie Eleison
Por ver o livre
Perder a memória de voar
E esquecer também
Kyrie Eleison
Por ver vozes altas se calarem
Junto de suas cabeças
E fingir talvez
Kyrie Eleison
Por ver a dúvida voltar
E a verdade ser concreta
E temer falar
Kyrie Eleison
Por ver as palavras saírem
Sem olhos e com bocas
E apenas não olhar
Kyrie Eleison
Por ver o sonho habitar
Sem esperança de sê-lo
E nunca compreender
Kyrie Eleison
Por ver as palavras
Reclamando sentadas
E desejar silenciar
Kyrie Eleison
Por ver o erro desfilando
Com grossas vistas a olhar
E continuar voltando
Kyrie Eleison
Por ver trejeitos fartos
Abraçados a nossos jeitos
E culturá-los de novo
Kyrie Eleison
Por ver a solidão chegar
Aumentando as malas
E não deslocar
Kyrie Eleison
Por não ver a contemplação
Do que seria mais real
E negar-me a tocar
Kyrie Eleison
Por não ver enflorescer cedo
Sem a importância incomodar
E despreocupar também
Kyrie Eleison
Por não ver as falas conjuntas
Sem assombrosas faces
E retroceder a exclamação
Kyrie Eleison
Por não ver o sincero subir
Diante das bocas em união
E criar o normal
Kyrie Eleison
Por não ver a compreensão
Assumir-se além do instinto
E perder também
Kyrie Eleison
Por não ver o encanto
Nem mesmo a arte
E cegar-me


Marina Cangussu F. Salomão

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