Para aquela que mais amo
Se um dia eu pudesse te perder
Desmontaria vagarosa
Cada peça de meu castelo
Construído na base que me destes
E perderia estas peças para o vento
Sem nunca poder reconstruir-me.
Sem teto e sem chão
Assolariam-me todas as pestes:
Minha pele ficaria pictórica e escura
Meu cabelo desfaria-se por qualquer sopro
Meu corpo encontraria a terra
E os germes encontrariam meu corpo.
Comeriam primeiro a mim
Para que eu tivesse a consciência,
Enquanto se alimentavam
Dos detritos da minha carne podre,
Da presença de cada um
A consumir-me vorazmente,
A perderem sua fome
E eu, perdendo cada mordida,
Tão pequena. Tão devagar.
Comeriam primeiro meu corpo
Para manterem-me acordada
E consciente da angustia de perder-se,
Da angustia de ver-se acabar.
Depois comeriam minha mente
E então o que ainda pulsa
Enorme e vivo: os sentimentos.
E finalmente acabaria
Assim como acabei contigo.
Marina Cangussu F. Salomão
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