Para Eduardo Cardoso A.
Ele chegou um tanto austero e obscuroEm meu quarto só meu,
Aquele que seria meu esconderijo.
Usava um ulster preto
E sua lã grossa engrossava mais
O semblante fechado daquele estranho
Que enruguescia o cenho
Com seu pincenê de aro fino.
Num dos bolsos uma corrente
Barulhando um tique incomodante,
Esvaziando o silêncio,
Nas mãos trazia uma caixa
Igualmente misteriosa.
Causava um temor
Que gelava-me inteira
Sozinha naquele quadrado
Antes confortador e seguro
E agora invadido.
O estranho se aproximava
De minha figura acanhada
E reprimida em um canto,
Vinha lento, procurando fitar-me
Fundo e profundo nos olhos.
Depositou lentamente a caixa
Junto a meus pequenos e trêmulos pés.
Sorriu-me desajeitado
Com dentes amarelos e falhos,
Meus coração acelerou-se no desespero
Sem conseguir ler aqueles gestos,
No medo escondi-me por entre as pernas.
E na espera de qualquer mal
Ouvi um bater de várias pequenas asas,
Voltando cuidadosamente o rosto
Vi diversas borboletas variegadas
Bailando soltos e colorindo as paredes:
Era uma fantasia cintilante,
Preenchendo aquele quarto vazio
Onde depositei minha alma.
E o estrangeiro agora com seu sorriso
Bastante feliz e sonoro
Parecia-me brilho e ilusão
E já poderia apossar-se
Da felicidade que me partia
E a ele cabia.
Marina Cangussu F. Salomão
Nenhum comentário:
Postar um comentário