Talvez eu não queira voltar lá e ver todos os destroços,
toda a ruína. Perdidos.
No tempo achei que valeria perdê-los, por um futuro
promissor: como dizia a voz de todas as gentes.
Hoje, no futuro, restou-me apenas um bolo enorme tampando
minha garganta, impedindo-me de tocar o alívio. Porque o tempo já passou e não
posso, apesar da imansa vontade, correr desesperado em lágrimas para o colo de
minha mãe com o joelho puro sangue.
Não posso, porque minhas quedas agora são outras, e não
existe nenhuma bicicleta, e o encontro de meu rosto ao chão ninguém vê. E se
percebem, dizem com desdém apenas que todo mundo aguenta.
Talvez meu pai estivesse certo em minha adolescência
quando batia as portas, justificando que o mesmo todo mundo ia à festa, e ele,
com toda calma, argumentava que eu não era todo mundo.
Sim. Hoje vejo que não sou. Não tolero o quanto eles
toleram. Ou pelo menos não consigo fazê-lo em meio a entorpecentes e outras
drogas, remédios, gritos e explosões.
Não consigo. Só consigo chorar. E é fato que me despedaço
na cama, abafando a dor das lágrimas no travesseiro.
Mas talvez seja isso a maturidade que não enxergo:
correr, como antes para o colo materno, mas dessa vez para as outras saídas,
típicas de adulto.
E engraçado como as crianças têm amadurecido tão rápido -
e brincam tão pouco - nem se lambuzam de tinta, só de cola (e esta não é a
escolar).
Ah! Confesso: a vida é inimiga de minha arte. Pelo menos
esta vida!
Marina Cangussu F. Salomão
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