quarta-feira, 9 de maio de 2012

Morre o solo sonho


  Talvez eu não queira voltar lá e ver todos os destroços, toda a ruína. Perdidos.
  No tempo achei que valeria perdê-los, por um futuro promissor: como dizia a voz de todas as gentes.
  Hoje, no futuro, restou-me apenas um bolo enorme tampando minha garganta, impedindo-me de tocar o alívio. Porque o tempo já passou e não posso, apesar da imansa vontade, correr desesperado em lágrimas para o colo de minha mãe com o joelho puro sangue.
  Não posso, porque minhas quedas agora são outras, e não existe nenhuma bicicleta, e o encontro de meu rosto ao chão ninguém vê. E se percebem, dizem com desdém apenas que todo mundo aguenta.
  Talvez meu pai estivesse certo em minha adolescência quando batia as portas, justificando que o mesmo todo mundo ia à festa, e ele, com toda calma, argumentava que eu não era todo mundo.
  Sim. Hoje vejo que não sou. Não tolero o quanto eles toleram. Ou pelo menos não consigo fazê-lo em meio a entorpecentes e outras drogas, remédios, gritos e explosões.
  Não consigo. Só consigo chorar. E é fato que me despedaço na cama, abafando a dor das lágrimas no travesseiro.
  Mas talvez seja isso a maturidade que não enxergo: correr, como antes para o colo materno, mas dessa vez para as outras saídas, típicas de adulto.

  E engraçado como as crianças têm amadurecido tão rápido - e brincam tão pouco - nem se lambuzam de tinta, só de cola (e esta não é a escolar).
  Ah! Confesso: a vida é inimiga de minha arte. Pelo menos esta vida!

Marina Cangussu F. Salomão

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