[...] cantais como os pássaros que de manhã recebem alimento,
Mas há pássaros famintos, que não podem cantar¹
Nasceram da Palavra e andam soltos
Sem mala, roupa, sala, nem nada
Andam sentados nos cantos
Com pés de cinzas do inferno de onde veem
Caminham dias seus olhos seguindo passos
E veem tudo, menos seus próprios laços
Dissolvidos em qualquer superfície
Bem antes de nascerem séquitos
Se amontoam perdidos, salpicados entre os cantos
E não cantam sequer sinfonia ruidosa
Ressoam somente seus gemidos tantos
E voam pelas manhãs à espera de argumentos
Sem ouvirem nada na surdez contínua
Ou na mudez perplexa e rápida dos passarinhos
Que apenas sentem o aroma das rosas brancas
E não o fétido aroma da carne dos perdidos
Marina Cangussu F. Salomão
¹Cecília Meireles in Elegia sobre a morte de Gandhi
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