sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Paçoquinha: cinquenta centavos

Ele caiu da cama.
Dormia como anjo,
Sem um anjo para protegê-lo,
No cimento duro e insensível
Com o sol quente na cara
Sem cara para mudá-lo
Os pés pretos sem banho
Cabelos e barba
E em seus sonhos possíveis
De um pouco de cada
Envolto em pesadelos
Rola de sua calçada
Caindo no outro chão


Paçoquinha: cinquenta centavos!


Ela na fila com poucas malas
Levava tudo o que era seu
Na espera do ônibus
Sentou-se no mesmo chão
Fedendo a água-esgoto que passava
Como fazer com os joelhos tão tortos
Quinze dias de trabalho 
Cinco filhos e nenhum marido?
O ônibus feroz chegava
Suas malas leves subiam
E o motorista impaciente
Seus joelhos tortos quebrariam


Paçoquinha: cinquenta centavos!


Ela varria aquele chão
Com roupa bizarra e colorida
O mínimo que fosse ganharia,
Mínimo ainda faria,
E junto da água suja e do lixo
Completava seus desejos
Com as bolinhas encontradas
Para o filho de poucos anos
E que importa se suja
Se havia luva, remédio e água
E que importa se nunca os teria!


Paçoquinha: cinquenta centavos!


Marina Cangussu F. Salomão

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