quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sorvete

Eles voltaram a equilibrar-se nas cordas 
Por entre as árvores naquele dia de sol 
Com manhã chuvosa e verde de tanta primavera.
Então ela viu neles os que se importavam 
Com o momento inicial do bater do coração 
E não com seu momento final.
E foi quando percebeu o quanto se perdera 
Por entre os dias lindos anuviados 
Em sombra indistinta em seus olhos,
Na hora tão negros, confundindo-se com a pupila,
Sem perceber ao menos que seu coração batia.
Viu, naquele momento, também 
Que não precisava haver sentido 
No retirar-se em colheitas de trigo 
Para se entregar à arte em alma em ascensão, 
Pois não precisa haver utilidade para se ter o céu 
E ser supremo e grandioso como se diziam dever ser.
E viu naqueles meninos que para flutuar 
Não é preciso água, mas fé mais que Pedro 
No vagar alheio dentro de si.
E assim tocar o outro em ser social,
Com alma expandida e consciência 
De sua existência independente 
No saborear o gelado do sorvete.


Marina Cangussu F. Salomão

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