Dedicado a Anna Alvim
Sua boca possuía um gosto de vômito que julgava ser o castigo para os pecados que não assumia cometer, mas cometia e sentia seus imensos prazeres pessoais inundar-lhe sem consciência (dir-se-iam). Sendo o único incômodo aquele gosto que passaria com alguns goles d'água.
Era que, em sua proteção de paredes brancas e gélidas, esquecia de suas ações, lembrando apenas de si. De quem seria e de quem deveria ser para admirar-se. Esculpia sua própria imagem.
Não era hipócrita, mas acreditava que se era responsável por suas definições sempre quando as notava. E as mudaria ou não, controlando o que lhe era mal e exaltando o bem aceito. Definindo o limite exato que a beleza se tornava veneno. E descobrindo onde estava o controle: em qual sorriso, em qual olhar, nesta ou naquela expressão e naquele jeito de falar com olhos intensos a engolir.
Assim sabia, ao sair de seu quadrado protetor, ser quem lhe definiam e surpreendê-los em fáceis respostas sem manipulação no rosto angelical.
E fazia, na segurança de seus ensaios. E possuía o que queria, os rostos que desejava.
Não dissimulava e orgulhava-se disso. Conservava-se em sinceridade. E não carregava a culpa de sua ambiguidade, que permitia-lhe ostentar dentro de si suas possessões. Mesmo que confundia-se com as semelhanças, por vezes tão iguais.
Mas não notavam, nunca notavam as complicações.
E pecava _ dir-se-iam: por fazer o que não conseguiam e sofria as consequências em gostos que surgiam de repente como prova de que ainda possuía consciência.
Não que a negasse. Sabia-a e ouvia-a. Mas não poderia juntá-la ao fato de possuir a si mesma sobre seu controle e, dessa forma, controlar os que lhe atravessavam.
Não. Não via em que sua consciência deveria palpitar, a não ser nas vergonhas que sabia existir guardadas.
Então, ela não monologaria sobre seus pecados, justamente porque não existiam. Não estava afirmando que não pecava, concluía apenas que aqueles devidos e definidos eram falsos para si.
Não vinha do alto a sentença que os apontaria. Formavam-se em bocas como a sua, recheadas de conceitos repetidos.
Puro padrão.
Soltos em argumentos pérfidos, enfeitados do que definiria como mesquinhez de prepotentes _ a julgar o que era bem e mal.
Então, não haveria de castigar-se por ser capaz de decifrar-lhes a alma _ já que a deixava tão exposta. Bastava-lhe o vômito na boca, pelo nojo de ponderá-los sequer momento, de crê-los, tão vãos e terrenos.
Marina Cangussu F. Salomão
"Não vinha do alto a sentença que os apontaria. Formavam-se em bocas como a sua, recheadas de conceitos repetidos.
ResponderExcluirPuro padrão."
Nuhh... muito bom!!!